Pop Rock
5 de Julho de 1995
álbuns portugueses
reedições
5 de Julho de 1995
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Janita Salomé
A Cantar ao Sol
ED. E DISTRI. EMI-VALENTIM DE CARVALHO
Que bom que era, em 1983, ouvir ao voz ao sol, a voz de sol, de Janita Salomé. Sentarmo-nos numa tarde à sombra de uma rua em Casablanca atentos a ouvir os ecos de um Alentejo lá mais para Norte… Ouvimos este disco, esta voz, depurados como o muro e as paredes de uma cidade assombrada de sol da capa, e percebemos tudo o que esta voz perdeu quando se deixou seduzir e enfeitar pelas falsas riquezas de arranjos empastados com pedras de fancaria, no recente “Raiano”. Assim decaem os impérios, tragados pelo novo-riquismo. Aqui, então, era apenas a voz vibrante e vibrátil de Janita, as suas percussões e as cordas de Júlio Pereira e Pedro Caldeira Cabral, suficientes para tecer o feitiço. Veículos ao serviço de uma música aberta às influências do Norte de África, do ar e dos pássaros, filtradas pela individualidade de um alentejano do universo. Brilhante, a luz antiga transportada na “ghaita”, supomos que marroquina, de Pedro Caldeira Cabral, em “Extravagante” (que, estranhamente, aparece duas vezes com o título “Extravagente” na ficha técnica…). Profundo e elevado o “cante”, em Pavão”. Mais próximo do Mediterrâneo e das moiras encantadas, em “São João”. Nem a “heresia” de ter subido à Beira Baixa para se deixar contagiar pela alegria de umas “Saias” retira a “A cantar ao Sol” o sabor dos grandes espaços e das grandes sedes cósmicas que em “Não é fácil amor” se abrigam e concentram no recato de um coração do tamanho do mundo. Uma das grandes, uma das maiores composições de Janita Salomé de sempre. Por fim, a partida, para as estrelas que brilham na “escuridão vinda do Oriente”, em “Quando chegou a lua cheia”, e no instrumental “Na Palestina”, alimentado pelo violino de Carlos Zíngaro. Viajava para bem longe, nestes anos que hoje parecem já tão afastados, Janita Salomé. (8)
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