POP
ROCK
17
de Maio de 1995
álbuns
portugueses
Coração
Maltez
ALA DOS
NAMORADOS
Por Minha Dama (7)
ED. E DISTRI. EMI-VC
Faltava,
entre o fado e o Quinto Império, um álbum despretensioso e com a beleza simples
desta segunda prestação em disco da Ala dos Namorados. Sem grandes preocupações
formalistas ou conceptuais, os quatro músicos pintaram uma aguarela que também
mergulha nas raízes históricas do país, mas o faz com uma leveza que está
ausente noutros projectos de índole semelhante. A voz de contratenor de Nuno
Guerreiro paira sobre suaves envolvências que beberam na tradição musical
portuguesa, como em “Coração maltês” ou no “cante” de “Alentejo (canção de ida
e volta)”, no fado, como em “Fado de cada um”, de Silva Tavares e Frederico de
Freitas, que Nuno dedicou a Amália Rodrigues, ou nas marchas populares
lisboetas, como na exuberante “História do Zé Passarinho”. As palavras de João
Monge constituem uma base poética forte que João Gil e Manuel Paulo aproveitam
da melhor maneira, sem sobrecarregar as canções com desperdícios, mas
valorizando o essencial das linhas melódicas e os característicos desenhos do
vocalista. Vibrafones em suspensão, teclados em constantes jogos de luz
conferem, por sua vez, a “Por Minha Dama” colorações de uma jazz aquático, de
arestas bem limadas, o que acentua ainda mais a impressão de pureza e alguma
inocência que são um dos principais atractivos do disco. A par da curiosidade
de escutar a forma como a voz de Nuno Guerreiro se experimenta nas regiões mais
graves, no balanço swingante de “O dia incerto”. O tema de abertura, “O baile
da viela”, promete circular no éter durante muito tempo, saindo directamente de
uma tradição que remonta à “Lenda de el-rei D. Sebastião” e à “Balada para Dona
Inês”, do Quarteto 1111. Um disco a merecer tempo de repouso e depuração, da
casta dos verdadeiros portugueses suaves.
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