Pop Rock
16 de Outubro de 1996
poprock
16 de Outubro de 1996
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PSICAdelas de olho
KULA SHAKER
K (7)
Columbia, distri. Sony Music
Os rapazes da “brit pop” andam a trabalhar com afinco, aproveitando para dar ouvidos à música do passado. A verdade é que lambuzar no boião da cultura nunca fez mal a ninguém e agora que o rótulo “pós-modernismo” se aplica a seja o que for que tenha desistido de arriscar a “primeira vez”, há que tirar partido das virtudes da síntese e da polivalência.
Os Kula Shaker são a coqueluche do momento, em Inglaterra, onde o primeiro lugar do Top já lhes pertence. Sem querer desfazer no gosto de consumidor britânico vulgar, tão vulgar como o dos seus parceiros do continente, a verdade é que os Kula possuem argumentos de sobra para justificar este e posteriores triunfos. A primeira impressão que se tem ao escutar “K” assume a forma da secular questão: “Onde é que eu já ouvi isto?” Percebe-se, também, imediatamente, que os Kula Shaker se agarraram a uma época, fazendo tudo o que podiam para espremer até à medula o seu sumo. A época remonta a 1967, quando o psicadelismo deixava pouco espaço a outros sons e comportamentos. Mas o engraçado é que o grupo começa por se socorrer de um filtro temporal intermédio, agarrando-se a um degrau ou a um corrimão de segurança, no seu movimento de regressão, dando de caras, nos três primeiros temas, com os “psicadélicos” da geração de 80, Stone Roses, Julian Cope e Legendary Pink Dots.
Alcançado esse primeiro estágio, introduzem a nota do exotismo orientalista. É então que surgem as “sitars” indianas, George Harrison, Ravi Shankar (o mediático, de Woodstock, entenda-se…), o Guru Maharishi, toda a galeria de santos e quinquilharia “hippie” que serviam de bagagem para a “trip” de LSD. O truque resulta, dando passagem à fase da cópia com menor ou maior descaramento. Por esta altura, a audição de “K” já se transformou num jogo de adivinhas cujo gozo consiste em apanhar as fontes de onde as frases foram sacadas. Os Pink Floyd contribuem com uma importante fatia de pano para as mangas. Em “Magic theatre”, a guitarra cósmico-indolente fugiu de “Meddle”, em Tattva”, de “Wish You Were Here”. “Grateful when you’re dead/Jerry was there” (reparem bem no título) é uma homenagem aos Grateful Dead que soa aos Beatles da fase inicial misturados com um “riff” de “I’m a man”, dos Chicago, enquanto “303” descolou do túmulo as distorções da “Fender Stratocaster” de Jimi Hendrix. Quanto ao vocalista, toma-se amiúde por um sósia de Edward Kaspel, como acontece em “Temple os everlasting light” e no tema final, “Hollow man”. Torna-se difícil resistir a esmiuçar até ao fim as moléculas musicais de “K”. Há quem tenha encontrado os Monkees, os MC5 de “Kick out the Jams”, o álbum branco dos Beatles, os Cactus, Crosby, Stills & Nash…
Quando nos dermos por satisfeitos com este jogo de rato e do gato, resta-nos admirar a unidade demonstrada por esta monstruosa colagem e reconhecer as artes de encantamento dos Kula Shaker. É que cada canção, soe da maneira que soar, tão saturada de referências como uma enciclopédia, nem por isso deixa de evidenciar uma enorme capacidade de sedução. Os Kula Shaker, mais do que ladrões, são prestidigitadores.
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