10/11/2008

The Divine Comedy - Promenade

Pop Rock

15 de Junho de 1994
ÁLBUNS POPROCK

The Divine Comedy
Promenade
Setanta, import. Contraverso

Neil Hannon tem aquele ar entre o seminarista e o perverso que caracteriza os verdadeiros “dandies” ingleses. Mas Neil Hannon, além do aspecto, é um notável escritor de canções – canções cheias de sentimento, humor, erudição e, algumas vezes, grandiloquência, a combinação perfeita a que é fácil chamar pretensiosa. Hannon tem, de facto, pretensões de classicismo. Se, no álbum anterior, ele abrira já o livro das melodias perfeitas que permitia comparar os Divine Comedy a uma ressurreição, nos anos 90, dos Kinks, o novo “Promenade” vestiu-se ainda com maior rigor, carregando com mais força na sofisticação dos arranjos para cordas – como se Michael Nyman tivesse virado pop – e deslizando no escorrega de um piano tocado à hora do chá na biblioteca de uma velha mansão inglesa. Os Divine Comedy estão no cruzamento de um madrigal, uma sala de leitura, uma igreja, Roger Eno, Nyman, e a “mod generation” dos anos 60. A pose, bem entendido, é cultivada até ao limite, com o artista a deixar-se fotografar em sugestões de crucificação ou com a pirâmide do Louvre por fundo, arvorando uma expressão mista de altivez e distanciamento. O intelectual mas também o iconoclasta assoma em “The booklovers”, cuja letra se resume a enunciado exaustivo de escritores, dos românticos aos contemporâneos, cada um acompanhado por um ruído, um cumprimento, uma exclamação ou uma onomatopeia, intercalado de um refrão irresistível. “Geronimo”, “Don’t look down”, “The summerhouse” ou “Neptunes daughter” insinuam-se da mesma maneira no ouvido, audição após audição. Mas é no último tema deste passeio pelo jardim que Neil Hannon atinge o estado de graça, em “Tonight we fly”, pouco menos de três minutos de pura magia passados com Peter Pan, verdadeira lição de voo pela terra do Nunca. Desde a estreia dos Smiths que um álbum não reunia um naipe de canções deste quilate. (8)

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