Pop Rock
2 de Novembro de 1994
2 de Novembro de 1994
“TUDO É MARAVILHOSO”
Voltará decerto a ser um acontecimento. Aliás, um concerto dos Chieftains é sempre um acontecimento. Para a lendária banda orientada por Paddy Moloney, um dos reis das “ullean pipes” da actualidade, será a terceira visita ao nosso país. Depois da semidesilusão que constituiu a sua apresentação na edição de 1992 da Festa do “Avante!” e um ano volvido sobre o concerto inesquecível que rubricaram no penúltimo Festival Intercéltico do Porto, um dos melhores de sempre por um grupo de folk em Portugal. Se para o público do Norte será a oportunidade para de novo rever a excelência, não só musical mas de verdadeiros “entertainers”, dos embaixadores da música tradicional do mundo. Para os lisboetas será a possibilidade de finalmente poderem pôr as contas em dia e também eles poderem dizer que assistiram a um concerto de uma lenda.
O “MC-Mundo da Canção”, que este ano comemora um quarto de século, é responsável pelo concerto no Porto, cuja realização está integrada nestas comemorações. Na capital essa tarefa estará a cargo da Afrika.
O que se pode dizer ainda dos Chieftains que não tenha sido já dito? Pouco, nem isso é o mais importante. Para Bob Claypool, crítico de música do Houston Post, é simples: “Se existe no mundo uma música mais bela que a dos Chieftains”, diz, “então eu nunca a ouvi”. Uma coisa é certa: Paddy Moloney, Derek Bell (o harpista com aspecto de professor liceal que no Porto mostrou ser um autêntico sátiro…), Matt Molloy (simplesmente o melhor flautista vivo da Irlanda), Sean Keane (no violino em aceleração), Martin Fay (no violino guardião da tradição) e Kevin Conneff (malabarista do “bodhran” e cantor de notáveis recursos) formam uma equipa praticamente imbatível. Como garantia adicional, pelo menos em relação à data no Norte, é o facto de os Chieftains terem ficado impressionados com a cidade e as gentes do Porto. Até porque nisto de concertos folk sabe-se a importância que tem, para que os músicos atinjam o melhor de si próprios, a existência de um bom ambiente.
Se no Porto, dados os antecedentes, a enchente será um dado praticamente certo, em relação a Lisboa as características “frias” da sala aconselham a mobilização geral não só do público apreciador deste tipo de música como da boa música em geral, uma vez que a dos Chieftains não se esgota nos parâmetros da “irish folk”. Que o digam os chineses (que ouviram “The Chieftains in China), os galegos (“Celebration”), os bretões (“Celtic Wedding”), os fãs da “country” americana (“Another Country”), os devotos das grandes orquestrações (“Irish Horse”) ou astros da pop como Jackson Browne, Marianne Faithfull, Roger Daltrey, Elvis Costello e Rickie Lee Jones, entre outros (“The Bells of Dublin” e “An Irish Evening”) ou Júlio Pereira, que recentemente gravou com os Chieftains o tradicional português “Não vás ao mar, Toino”, a incluir no próximo álbum da banda.
Se a boa música é com eles e está à partida garantida, já a festa depende em grande parte de nós. Para que faço pleno sentido a frase de Paddy Moloney, sobre o que sentem os Chieftains, ao fim de 30 anos de entrega a uma paixão: “Ta gach rud to hiontach”, “tudo é maravilhoso”.
CHIEFTAINS
4 de Novembro, Coliseu do Porto
5 de Novembro, Pavilhão Carlos Lopes, Lisboa
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