03/12/2008

The Heads - No Talking, Just Head

Pop Rock

20 de Novembro de 1996
poprock

Cada cabeça sua sentença

THE HEADS

No Talking, just Head (7)
MCA, distri. BMG

David Byrne diz que não abandonou os Talking Heads mas que se recusa terminantemente a voltar. Os Talking Heads acabaram? Chris Frantz, Jerry Harrison e Tina Weymouth espantam-se e dizem que não. “Mas nós somos os Talking Heads!”, garantem. A saída de Byrne não impediu, portanto, que o trio começasse a compor, há dois anos, novas canções para um novo álbum. “No Talking, just Head” saiu mesmo, sob uma chuva de protestos do antigo vocalista, que fez uma série de acusações aos seus antigos companheiros, desde violação do uso de logotipo a “falsas designações de origem” e “falsas descrições”. É um facto que, do “lettering” às cores da capa e ao próprio título do disco, se indicia uma colagem ao grupo original, mas isso acaba, afinal, por fazer sentido, na medida em que os três elementos remanescentes se arvoram detentores da estética da banda. A verdade é que “No Talking, just Head” não se parece com qualquer dos álbuns dos Talking Heads originais. Compostas as canções, Frantz, Harrison e Weymouth trataram de convidar uma série de amigos para fazer as vocalizações, o que confere ao disco uma enorme diversidade de registos onde o único elo comum com a antiga formação é, obviamente, a base rítmica. Mas mesmo aqui nota-se uma diferença de pesos e medidas. A voz de Byrne era parte integrante desse ritmo enquanto que as dos vários vocalistas convidados funcionam como desvios com inclinação para os cantos da casa de cada um. São muitas as cabeças da actual hidra. E, como se sabe, cada cabeça sua sentença. Sentenciam Johnette Napolitano, ex-Concrete Blondes, que, concluída a gravação, acompanhou o grupo nas digressões ao vivo, Michael Hutchense, dos INXS, Ed Kowalczyk, dos Live, Debbie Harry, Richard Hell, Maria McKee, Shaun Ryder, dos Black Grape, Malin Anneteg, Gordon Gano, dos Violent Femmes, Andy Partridge, ex-XTC, e Gavin Friday. Ou seja, um forte contingente de antigos companheiros de luta dos tempos da “new wave” e do clube “CBGB”. “No talking” salda-se então por uma celebração de ritmos divergentes, do falso “punk” de Debbie Harry e Napolitano, em “Punk Lolita” e do “funk” ao “dub/reggae” e às actuais tendências “hip hop”, em contraste com o “crooning” sintético dos Yello, por Gavin Friday, em “Blue blue moon”, e as virtuais incursões brechtianas de Maria McKee em “No big band”. Tudo junto e mexido acaba por resultar numa agitação, entre a nevrose e a contemplação inquieta, que estilhaça por completo qualquer linha de continuidade com os anteriores Talking Heads. Nem por isso este discurso a várias vozes faz menos sentido. Se não pela mensagem que pretende transmitir, ao menos pelo alarido com que nos assalta os sentidos.

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