26 Fevereiro 1997
Simeon Ten Holt
Canto Ostinato
EMERGO CLASSICS, IMPORT. VGM
São precisas mãos, pianos e o domínio do tempo. Duas, quatro, seis mãos, tantas quantas forem precisas para multiplicar a harmonia e “Canto Ostinato”, peça-chave inscrita na corrente minimalista, cuja primeira interpretação data de 1979. Ou seja, em pleno reinado da escola americana, Simeon Ten Holt, compositor holandês, aluno de Honegger e Milhaud, avançava com um percurso paralelo que, na Europa, apenas viria a ser seguido – de maneira bastante mais pobre, diga-se – por Wim Mertens. “Canto Ostinato” é uma longa composição de 75m29, 106 secções indexadas em 92 partes – em que, como o próprio título sugere, uma frase de piano, ou dos pianos (neste caso, trata-se de uma versão gravada ao vivo, no ano passado, na Igreja Maria Minor, em Utrecht, por Kees Wieringa e Pólo de Haas), é manipulada até ao infinito, numa estruturação contínua do tempo e do silêncio. O efeito tanto pode ser o tédio absoluto como a entrada gloriosa no templo da música das altas esferas, onde a acumulação subliminar dos harmónicos concede a graça da audição de melodias celestiais suspensas num estado de semi-sonho, entre a vibração do ar e a vibração mental. Tudo o que LaMonte Young teorizou e, nesta obra, Simeon Ten Holt materializou. Observado do exterior, vislumbram-se em “Canto Ostinato”, sobretudo na cadência final, recrudescências do romantismo, assim como há quem veja em Ten Holt o Satie do minimalismo, pressentindo nesta música a mesma progressão extática das notas e das pausas do autor das “Gnossianas”. Para aqueles que já não conseguem ouvir falar, sem uma náusea, de “música minimal repetitiva”, sugere-se que interrompam, por momentos, o enfado e escutem, de espírito aberto e orelhas limpas. Porque, como alguém diz nas notas da capa, “uma interpretação de ‘Canto Ostinato’ é mais um ritual do que um concerto”. (9)
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