Pop Rock
5 Março 1997
5 Março 1997
Morphine
Like Swimming (9)
RYKO, DISTRI. MVM
Não é “pós-rock”, mas “low rock”, como Mark Sandman gosta de chamar à música dos Morphine. Chamem-lhe o que quiserem. A dose de Morphine que o trio formado por Sandman, Dana Colley e Bill Conway vem injectando desde “Good” nas veias da música pop atinge aqui o seu “flash” mais intenso. Os Morphine assimilaram, intuitivamente ou dos compêndios, não importa, a tradição das franjas mais fumarentas e polposas dos “blues”, do “rhythm’n’blues”, do “cabaret” e do “jazz” mais cambaleantes, baixaram-lhes as rotações e deitaram-lhes picante para cima. A cabeça não tem direito a nada. O corpo é que paga, obrigado a pegar ou largar esta energia que parece brotar do baixo-ventre, canalizada pelo sax barítono, cada vez mais visceral, de Dana Colley e as cordas, do baixo ou da “tritar”, de Mark Sandman. Mais ainda do que nos álbuns anteriores, “Good”, “Cure for Pain” e “Yes”, “Like Swimming” atira pelas colunas um som quase palpável resultante de uma produção que, mais do que nunca, privilegiou o espaço e as dinâmicas, sem se esquecer de abrir as portas aos sintetizadores e outros artefactos electrónicos, que agora ganham uma maior margem de manobra. Parece simples o modo como o grupo põe em prática a sua teoria de “mais subtracção e menos produção”, mas nesta aparente simplicidade esconde-se um trabalho de escultura sonora que neste álbum adquire uma concisão quase maníaca. É o “swing” aliado ao espectáculo de variedades e ao exotismo, num comboio dos duros com a mesma força e eficácia de um terrorista como Clint Ruin-Jim Foetus, mas sem o demonismo e infiltrado por uma descomunal carga de sensualidade. É como nadar num mar de energia ou numa piscina de fogo. Uma facada nas costas dos narcodependentes anónimos.
Sem comentários:
Enviar um comentário