29/12/2008

Brenda Wooton - The Voice Of Cornwall

POP ROCK

26 Março 1997
world

Mamã Cornualha

BRENDA WOOTON

The Voice Of Cornwall (8)
Keltia, distri. MC – Mundo da Canção

Ouvimos pela primeira vez Brenda Wooton cantar, num disco duplo que registava as participações de alguns artistas no Festival de Música céltica de Kertlag, de 1973, na Bretanha, entre os quais Dremmwel, Planxty e os L’Habit des Plumes, de René Werneer. Impressionou-nos, então, a força e o tamanho desta mulher, com uma voz e corpo de proporções avassaladoras. Voz que não se perdia na projecção operática de um peito de turbina, antes era capaz de se soltar como um pássaro, em modulações de bailarina. Um dos temas que esta cantora natural da Cornualha – a península onde a Inglaterra se debruça sobre a Bretanha – cantou em Kertlag, onde era patente a extrema emotividade posta na interpretação, chamava-se “Mordonnow” e está incluído na presente colectânea.
Brenda Wooton morreu, faz este mês precisamente dois anos, com 66 anos de idade, a melhor homenagem que lhe pode ser feita é ouvir este disco e perceber a emoção antiga que o percorre. Brenda Wooton cantou, com uma alma tão grande como a sua voz e o seu corpo, um reportório que, além da tradição da Cornualha, não desdenhou o “gospel” (aqui representado em temas como “Old time religion”), os “blues”, o “jazz”, o “rock” e os hinos religiosos (nalguns temas desta colectânea, acompanhada por um coro infantil). Cantou com Alan Stivell e era uma figura querida dos bretões, que lhe chamavam “a voz da Cornualha”. Para os franceses em geral, era “mamã Cornualha” e, na linguagem sagrada dos bardos, respondia por “Gwylan Gwanvas”, a “gaivota de Newlyn”. “A capella”, em duetos vocais ou com o discreto acompanhamento de uma guitarra, uma concertina ou percussões (não existe ficha técnica do que são, sem dúvida, registos de ocasiões separados no espaço e no tempo), a voz sobressai sempre, na evocação dos dias da rádio – quando cantar implicava a dádiva e empenhamento totais – e por uma pureza que redimia a singeleza das origens. “As minhas canções são como amigos, cada uma com a sua personalidade e o seu ambiente. Enquanto estou a cantar, pinto na minha cabeça os seus retratos. Posso apresentar-vos os meus amigos?”. Foi assim que Brenda Wooton se dirigiu ao público francês, no início de um concerto.

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