29/12/2008

Xutos & Pontapés - Dados Viciados

POP ROCK

26 Março 1997
portugueses

XUTOS E PONTAPÉS
Dados Viciados (7)
Ed. E distri. EMI-VC

“Telecaster”, o instrumental que abre “Dados Viciados”, não consta do alinhamento. Para se ouvir este tema-fanstasma em que os Xutos fazem a recriação “kitsch” do ambiente de um casino, deve-se carregar continuamente na tecla de recuo do leitor, no início do tema número um, até se entrar na contagem de tempo correspondente ao tema escondido que está gravado antes.
Se se preferir começar “Dados Viciados” pelo tema de abertura, com o mesmo nome, apanha-se, de imediato, com um pontapé na cara. A entrada do grupo de Tim, Zé Pedro, Kalu e João Cabeleira para a sua actual editora coincidiu com o desengatilhar de energias contidas, agora libertas em puro rock’n’roll. As guitarras dispararam, o ritmo acelerou, o império do “riff” veio para ficar. Ronnie Champagne, o produtor que soube adivinhar nos Xutos toda esta força contida e canalizá-la através de um som mais internacional do que o das obras precedentes, reduziu a estrutura das canções ao essencial: voz, guitarras, baixo e bateria, lançados a galope, como se o tempo escasseasse e os Xutos tivessem urgência em atirar às cegas os dados desta sua nova aposta.
Descansa-se ao tema número quatro, “Manhã submersa”, com passagem para o psicadelismo, inoculado de orientalismo, de “Um jogador”, acelerando-se um pouco em “Mil dados”, sequência de “riffs” pesados, na tradição dos grandes mamutes da antiguidade, Deep Purple, Led Zeppelin e Black Sabbath. “Negras como a noite” inicia-se no balanço suave de uma guitarra acústica, a letra e vocalização de Tim fazendo lembrar a mesma temática de separação dos Rio Grande. Nas distorções dilacerantes da guitarra que angustiam “No quarto de Candy” entra-se para o mesmo quarto frequentado, a horas proibidas, pelos UHF.
Mas é no rock que se forjou e continua a afirmar a identidade dos Xutos, quer em desaustinação “punk”, quer em velocidade de cruzeiro. Não há em “Dados Viciados” qualquer espécie de ruptura com o passado, mas antes a redescoberta e rejuvenescimento das mesmas premissas de sempre: dizer depressa e sem subterfúgios o tempo que escasseia e a vontade de ir em frente, mesmo se pela frente estiver um muro ou um abismo. É a velha máxima do “No future” reciclada para os anos 90, segundo as regras de um jogo, à partida, viciado. Mas os Xutos continuam a lançar a cabeça contra o pano verde.

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