PÚBLICO QUARTA-FEIRA, 1 MARÇO 1991 >> Cultura
Concerto
da “Liga dos guitarristas habilidosos”
Robert
Fripp atua em Lisboa
ROBERT
FRIPP atua em Lisboa no próximo dia 15 de abril, em local ainda por confirmar,
num espetáculo único organizado por Hernâni Miguel/Contraverso. Acompanham o
antigo guitarrista dos King Crimson, a League of Crafty Guitarists, constituída
por onze executantes do instrumento, seus discípulos e antigos alunos de
seminário.
Fripp é unanimemente considerado,
depois de Hendrix, um dos grandes inovadores da guitarra elétrica e
nomeadamente da técnica por si inventada a que chamou “Frippertronics” – um
sistema de interface entre a guitarra e uma série de gravadores e controladores
de som que permite a criação de ciclos repetitivos e estruturas tonais suscetíveis
de múltiplas manipulações.
Fundador de uma das bandas mais
importantes do denominado “rock progressivo” dos anos Setenta, os King Crimson
(atuação memorável, em agosto de 1982, no estádio do Restelo, antes dos Roxy
Music), com os quais assina obras capitais como “In the Wake of Poseidon”,
“Lizard” ou, em fases posteriores, “Larks’ Tongues in Aspic”, “Red” e
“Discipline”, Robert Fripp gravaria posteriormente a solo uma trilogia em que
profetizava mudanças radicais para a sociedade ocidental na década de Oitenta
(“Exposure”, “God Save the Queen/Under Heavy Manners” e “Let the Power Fall”).
Associa-se a Brian Eno na feitura de
dois discos experimentais e obscuros: “No Pussyfootin’” – primeiro em que
utiliza as frippertronics – e “Evening Star”. Com Andy
Summers, dos Police, grava “I Advance Masked” e “Bewitched”. Participa como músico convidado em
discos de Peter Hammill, Peter Gabriel, David Bowie, Talking Heads, Blondie e
Toyah Willcox (com quem viria a casar).
Práticas
tântricas
A meio da década de 80 retira-se para
um mosteiro em Inglaterra, dedicando-se a meditação e a práticas tântricas de
autodisciplina inspiradas nas doutrinas de J. G. Bennett, discípulo de
Gurdjieff. A partir de 1985 dá aulas de guitarra e realiza seminários sobre
novas técnicas para o instrumento. Escolhe alguns dos seus melhores alunos e
forma a League of Crafty Guitarists, grupo que a partir de então o tem
regularmente acompanhado em atuações ao vivo. “Robert Fripp and the League of
Crafty Guitarists”, de 1986, é até agora o único registo discográfico desta
formação.
Desenvolvendo-se segundo combinações
instrumentais que vão desde o simples dueto até complexas polirritmias e
explorações tímbricas praticadas pela totalidade dos doze intérpretes, a música
da “Liga dos guitarristas habilidosos” é o contraponto estético e estilístico
da visão “brutista” e totalitária das orquestrações para guitarra elctrica, de
Glenn Branca. Abril, em Lisboa, as guitarras vão cantar.
Sem comentários:
Enviar um comentário