12/06/2009

Os Poetas - Entre Nós E As Palavras

Sons

28 de Novembro 1997
DISCOS – PORTUGUESES

Os Poetas
Entre nós e as Palavras (7)
Columbia, distri. Sony Música

Entre nós e as palavras costuma haver um desinteresse. Ou, pior ainda, uma surdez. Os surdos continuarão perdidos no meio da gritaria. Aos outros, pode-se e deve-se chamar a atenção. É o que fazem Os Poetas, armando-se com as palavras dos ditos e acrescentando-lhes música, para atrair os que, eventualmente, se sentem desamparados diante da palavra nua. Rodrigo Leão, Gabriel Gomes, Francisco Ribeiro e Margarida Araújo escolheram cinco poetas: Mário Cesariny, Herberto Helder, Al Berto, Luiza Neto Jorge e António Franco Alexandre. Encontraram para cada um deles uma história sonora que obrigasse a escutar a música que se revela nas palavras.
Umas vezes os poemas são ditos, em tempo real, por Margarida Marinho. Nestes casos, sentimos a segurança de nos sabermos distantes da fonte, agasalhados pelas sonoridades neoclássicas dos músicos. Mas quando as palavras brotam directamente da fonte, através de gravações dos autores declamando os seus próprios versos, a perturbação instala-se e a Poesia irrompe como uma labareda redentora. Não que Cesariny ou Herberto Helder sejam bons declamadores. Não são. Falta-lhes a tal distância e o teatro dos grandes João Villaret e Mário Viegas. Mas escutando a fragilidade da sua voz, as hesitações da palavra empurrada pela certeza do espírito, estremecemos. E pensamos. E rimos. E sentimos.
E que me perdoem os outros, os vivos e os mortos, mas Cesariny marcha aqui à frente, em três momentos que valem por um instante da vida: o pedaço agridoce arrancado ao quotidiano sem esperança que é “Pastelaria”, a noite surrealista de uma enorme e solene nave solitária, comandada por um sonho maior, “O navio dos espelhos”, e o virar do avesso das palavras anteriores à fala, “You are welcome to Elsinore”. Porque, e pegando nas suas palavras, “afinal o que importa” é estar vivo e atento, e o “nosso dever, falar”.

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