Livros
MÚSICA
PALAVRAS E SONS
Título:
Camaleão na Sombra da Noite
Introdução e Tradução de
Alexandre Vargas
Editora: Assírio & Alvim,
1990
117 pp.
1200$00
O título refere-se ao segundo disco
a solo do antigo líder de uma das bandas mais importantes da década de Setenta
– os Van Der Graaf Generator. O livro em questão apresenta uma recolha de
poemas/letras de canções de músico e poeta inglês, compilados e traduzidos, em
edição bilíngue, por Alexandre Vargas. Uma introdução à obra do autor, uma
entrevista efetuada no nosso país aquando da visita daquele em 29 de Setembro
de 85, no hotel Tivoli, uma biblio-discografia e fotografias de arquivo,
completam o livrinho. Alexandre Vargas devia ter vergonha. As suas “traduções”
dos textos Hammillianos ofendem o autor do imortal “A Plague of Lighthouse
Keepers”. Ofendem as línguas inglesa e portuguesa por igual. Envergonham o
leitor, pelo atropelo constante, não dizemos já às mais elementares regras da
gramática, como aquelas bem mais elementares respeitantes ao simples bom-senso.
Mesmo desculpando erros do estilo “I shine, but shining, dying”, para Vargas,
“brilho, mas a brilhar a morrer”, como é possível traduzir “delight” por “luz”
ou “silver” por “silva”? Está certo que, como nos diz Borges, “o inglês é uma
língua em que frequentemente há duas palavras para designar a mesma coisa”. Mas
tanto? Nalguns casos o Vargas assume a
sua ignorância, referindo-se por exemplo a um disco com “dupla sleeve”. Mas
logo a seguir é a própria língua inglesa que é posta em cheque, pecando por
paupérrima. “Ice”, gelo? Nunca! “Olhos de gelo” é que está correto. Com
Alexandre Vargas a tradução livre ganha dimensões inusitadas. Logo na nota do
tradutor somos avisados: “Se por um lado qualquer tradução de um texto perde
alguma coisa em relação à língua em que este foi originalmente escrito, por
outro alguma coisa poderá também ganhar”. Ganha e de que maneira. Não se
estranhe pois que “ Doubt casts its shadow/ on every perfect plan that is made”
signifique “a dúvida poisa a sua sombra/ em cada plano perfeito louco que
fazemos está a morte”. Com Vargas podemos ter a certeza que “nada se perde,
tudo se transforma”. Restam finalmente o prazer e o consolo proporcionados pela
leitura direta dos originais. Testemunho pungente das obsessões, solidão e
alucinações cósmicas de Hammill, poeta perdido nos labirintos da condição
humana. De “The Least We Can Do Is Wave To Each Other” a “And Close As This”,
um percurso solidário de palavras e de sons.
LEITURAS TERÇA-FEIRA,
3 JULHO 1990
Sem comentários:
Enviar um comentário