Pop
PESTE NA CORDA
BAMBA
GROOVY NOISE – DADA ROCK
Maxi, Ama Romanta
Analisemos cada um mais
detalhadamente e desde o princípio: “Groovy noise” é puro gozo, “Rádio fun fun”
povoado de associações livres, “I want to be pop-a-lula in the tears of a
clown” e alguns achados ao nível da produção que incluem um solo de guitarra de
Jorge Ferraz (atualmente nos Santa Maria Gasolina Em Teu Ventre e inimigo
declarado de Peste...) e uns toques de “scratch” da autoria de Rafael Toral.
Basicamente é o velho rock ‘n’ roll coberto com a capa e o verniz modernistas.
“Cocaine, amigo” é muito boa (a canção, não a
outra). Cantada em inglês, francês e português constrói a melodia a partir da
música das palavras. Ambiência irreal e fonética, o cantor fazendo deslizar
sonhadoramente a voz por entre os vapores inebriantes da irreal amiga e
cantando “tous les mots sont des poèmes que se desfazem na minha [atenção, na
‘minha’ dele] mente”. Sucessão de imagens que, como nuvens, se desfazem ao
ritmo flutuante dos ventos da imaginação. Neste tema Peste agradece a
colaboração especial dos Sonic Youth, Jimi Hendrix, Butthole Surfers, Led
Zeppelin, Kurt Schwitters, Almada Negreiros, Wyndham Lewis, Jean Cocteau e
Pablo Neruda. Fica sempre bem um pouco de exibicionismo cultural...
“Clio software” é outra
alucinação sonora e João Peste revela-se um autêntico psicadélico. A letra
refere-se à pessoa amada cujo cérebro, quando ligado ao ecrã do televisor, faz
Peste “delirar com as imagens escondidas na sua mente”. Imagens de “losangos e
quadrados de cores” que, afirma, “nem sabiam que existiam”. É o que faz
abusar!... Trata-se de uma canção cibernética (seja lá o que isso for) que fala
de “Cristo abençoando um prédio cinzento”, Coca-Cola, néons e Nova Iorque,
sobre um ritmo eletrónico decalcado dos Suicide e o cantor lembrando vagamente
os trejeitos vocais de Philip Oakley, dos Human League. Destaque para a
intervenção de Rodrigo Amado, no saxofone. Apesar dos “encostos” o tema
funciona, conseguindo criar o ambiente “Blade Runner” pretendido.
“Distante domingo” é que
se torna perfeitamente dispensável. João deixa de ser Peste para querer ser
Villaret e o resultado é lamentável. O texto é declamado e enfia no mesmo saco
o espírito de Rimbaud, o computador central de Helsínquia, soldados castanhos e
um jacinto vermelho. Loucura controlada? Nem por isso. O “poema” não tem a
força que lhe permita dispensar o apoio musical, que aqui se apaga quase
completamente, afundando-se as palavras na voz monocórdica e dolente do seu
autor.
Sintetizando: o maxi está muitos furos acima
da produção média nacional, reiterando o que já se sabia – ser João Peste uma
das personagens mais invulgares e provocadoras do nosso meio musical, capaz do
melhor e do pior. Neste caso de ambos.
QUARTA-FEIRA, 11 JULHO 1990 VIDEODISCOS
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