Pop
UHF
ESTE FILME/AMÉLIA
RECRUTA
Maxi,
Ed. Edisom
Este disco prova-o. Os UHF
assumem-se definitivamente como o principal grupo português de rock. Do
verdadeiro, direto, descomplexado, mandando às urtigas quem neles insiste em
ver D. Sebastião ou então, frustradas as tontas expetativas, uma corja de vendidos.
Não são nem uma coisa nem outra. Nem se preocupam muito com isso. O novo disco
é o melhor da banda, dos últimos tempos. A vários níveis. A começar pela capa,
uma fotografia simulando um anúncio de filme, retratando a preto e branco uma
cena de guerra. “Este Filme” e a legenda aposta – “Intenso e verdadeiro,
humor... A história de um soldado”. Por baixo a respetiva ficha técnica. O
cartaz, sobrepondo-se à impressão de uma entrevista a António Manuel Ribeiro.
Na contracapa, um plano ampliado da mesma fotografia, nas cores da bandeira
nacional.
Quatro temas. Do lado A o já citado
“Este Filme” e “Portugal dos Pequeninos”. O primeiro um tema lento e balanceado
em que AMR mostra até que ponto tem evoluído como vocalista. Seguro, cantando
como se tudo dependesse das palavras. Cantando-se a si próprio, como quase
sempre, e ao país que a seguir retrata como o “dos pequeninos”. Este último o
mais facilmente encostado ao som habitual da banda. O outro lado é excelente.
“Amélia Recruta” é a canção mais forte do disco. Um “hit” inevitável,
disparando rock ‘n’ roll sobre a instituição militar, com uma convicção
eufórica e uma melodia irresistível. O “Rock de Cá” é uma crítica irónica e não
muito feroz ao meio musical lusitano. Que, bem feitas as contas, não existe
como tal.
É também ao nível dos arranjos que a
banda de Almada faz questão de afirmar a diferença. O modo como o saxofone de
Renato Junior é projetado para a boca de palco, liberto em contorções furiosas,
as intervenções guitarrísticas de Rui Rodrigues e Renato Gomes, este como
convidado especial em “O Rock de Cá”, os teclados, imitando marimbas neste
último tema, são alguns exemplos sintomáticos de que a banda de Almada não está
disposta a dormir sobre os louros alcançados. Liberta de fantasmas, o povo é
finalmente o único destinatário das canções e palavras do seu líder
carismático, o mesmo que reconhece frontalmente serem os UHF o seu projeto a
solo. Palavras e melodias para serem cantadas e assobiadas na rua pela grande
massa anónima, a mesma que os levou ao lugar ímpar que ocupam, por direito
próprio, no panorama musical luso. Quanto às polémicas e acusações que
regularmente se levantam à sua volta, “os lobos uivam, a caravana passa”. Quer
queiramos quer não, há que continuar a contar com os UHF e desde já como estes
novos “argumentos e bandas sonoras” assinados por António Manuel Ribeiro e
interpretados pelo “cast” UHF.
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