Y
22|JUNHO|2001
escolhas|discos
VÁRIOS
Clicks & Cuts 2
6|10
3xCD Mille Plateaux, distri. Ananana
PLAID
Double Figure
7|10
Warp, distri. Zona Música
AUTECHRE
Confield
6|10
Warp, distri. Zona Música
Um corte no Titanic
Crepitações,
síncopes, interferências, avarias digitais. Clicks & cuts. Ao peso é mais
barato. A corrente estética que os Pole inauguraram, quando foram remexer nos
caixotes do lixo de Silicon Valley, e a editora alemã Mille Plateaux abraçou de
imediato, tem neste seu segundo volume da antologia, um catálogo geral, com
apresentação minimalista e a conveniente teorização que é todo um programa de
intenções. No geral, “Clicks & Cuts 2” fica-se por aqui. À quantidade (36
temas, por outros tantos autores) apenas correspondeu em percentagem mínima a
qualidade. O primeiro volume prima pela monotonia, podendo os 12 temas ter sido
elaborados por um só artista, tal a semelhança dos timbres e o desenvolvimento
das programações click house. Há que dar uma varridela ao software. Ao fim de
poucos minutos faz click, de facto, e cut. É o interesse a desligar.
No
segundo CD, os powerbooks tentam sair da letargia, mas o raio de sol aceso de
início por Vladislav Delay cedo se esgota em mais uma sequência de beats
eletrónicos cuja uniformidade chega a irritar. Mesmo Thomas Brinkmann e Kid606
se perdem entre tanto cinzentismo. A terminar, o terceiro CD foca o lado mais
minimalista do minimalismo, roçando o silêncio e as fequências subliminares,
nos Cyclo e nos Pan Sonic (aqui na sua versão clínica) para finalmente, e
seguindo uma estratégia eficaz, “Clicks & Cuts 2” fechar com novo golpe de
génio dos franceses DAT Politics que em “Hardwai” fundem num único organismo o
humor, o radicalismo, o prazer e a tortura.
Na
Warp os polos assumem cargas elétricas opostas. Os Plaid insinuam-se. Os
Autechre propõem o tudo ou nada, o amor ou o ódio. “Double Figure” é eletrónica
para vestir como uma máscara de carnaval veneziano, uma música tão elegante
como burlesca que flui entre a “ambient”, o breakbeat, a tecno minimal e
desmaios de jazz. No seu melhor balouça e acende luzinhas como um brinquedo
eletrónico de B. Fleischmann e respira com a mesma clareza e o mesmo
aproveitamento do espaço dos Isan. Têm, além disso, o sentido da melodia e da magia.
No seu pior, é longo em demasia. A meio as ideias esgotam-se, a magia esvai-se,
as sensações petrificam. Mas enquanto dura, e dura o suficiente, como o coelho
das pilhas Duracell, gira-se nesta música como num carrocel.
A
imagem do carrocel também se aplica a “Confield”, mas neste caso para
simbolizar a vertigem, a tontura e o movimento circular. Há quem encontre neste
trabalho dos Autechre a glória eletrónica do ano. “Confield” é um esquema
algébrico, a música mais fria e sem alma que nos foi dada ouvir nos últimos
tempos. Com um gume aguçado apontado ao jazz digital, mas onde a gula do
“groove” descamba numa orgia de breakbeats, numa espécie de histeria
cibernética. Entre o ambientalismo de alumínio de “Vi scose poise” e a
epilepsia breakbeatica de “Lentic catachresis”, “Confield” esgota-se nas suas
premissas. É um álbum orgulhoso, uma fortaleza apta a navegar nos meares
gelados da tecnologia, mas o perigo espreita no horizonte. Aconteceu o mesmo ao
Titanic.
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