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27|ABRIL|2001
discos|escolhas
MAFALDA ARNAUTH
Esta Voz que me Atravessa
Ed.
e distri. EMI-VC
8|10
Mafalda, a travessa
Para
Mafalda Arnauth, memorável intérprete ao vivo de “Foi Deus” em mais do que uma
ocasião, Amália foi a mestra e a figura de referência, mas enquanto o seu álbum
homónimo de estreia denotava uma contenção que podia ser confundida com receio
e um encosto a leituras mais ligeiras do fado, este segundo trabalho, com
produção de Amélia Muge e José Martins, apresenta um território definitivamente
aberto à emoção.
Além
da conquista de uma maturidade no capítulo da composição que a autoriza a
emparceirar, sem complexos, fados seus ao lado de clássicos como “Até logo meu
amor”, de Alfredo Marceneiro, Mafalda Arnauth ganhou confiança nas palavras que
canta, descobrindo nelas novas fontes para exercitar quer a alma quer a sua voz
extraordinária. Uma voz que agora se volta menos para o espelho e mais para o
sentido dos poemas, mudança que tem como principal consequência o alargamento
dos próprios registos vocais que assim acompanham com outra agilidade a
pluralidade de emoções desencadeada por textos de Hélia Correia, José Joaquim
Carvalheiro, Amélia Muge ou da sua própria autoria.
As
palavras escritas por Hélia Correia para o título-tema, de “Esta Voz que me
Atravessa”, dizem muito sobre esta deslocação de atitude e redescoberta da
música que a palavra poética contém: “Esta voz que me atravessa/Sem que eu
queira, sem que eu peça/Não mora dentro de mim/Vive na sombra a meu lado/Dando
ao meu fado outro fado/Que me faz cantar assim”.
Entre
a universalidade dos arranjos (Stephan Micus gostaria das guitarras de “De não
saber ser loucura”), uma inspirada apropriação de Fausto (“Lusitana”) e um tom
mais popular que faria sorrir de agrado Amália (“Coisa assim”), “Esta Voz que
me Atravessa”, depois de “Esta Coisa da Alma”, de Camané, e da emergência de
fadistas ou cantoras de fado como Cristina Branco, Ana Sofia Varela ou Joana
Amendoeira, confirma o período de ouro que o fado atualmente atravessa, pela
voz e pelo empenhamento de uma nova geração que soube compreender e assimilar
os ensinamentos da tradição.
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