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15|JUNHO|2001
escolhas|discos
SYD BARRETT
Wouldn’t you Miss me? The
Best of Syd Barrett
8|10
Harvest, distri. EMI - VC
Barrett in the sky with elephants
Que
o rapaz era doido varrido, já toda a gente sabia. Que os Floyd sem ele passaram
a ser uma banda totalmente diferente (para melhor, dizem uns, para pior, dizem
outros) também é do conhecimento público. Que após a sua saída do grupo apenas
conseguiu gravar – e a muito custo – dois álbuns a solo, antes de voltar a arrastar-se
para debaixo das asas da mãe e de se enclausurar no sótão onde parece que passa
atualmente o tempo a jogar dominó sozinho, também é assunto documentado. Agora
o que nunca tinha acontecido antes, e já devia ter acontecido, era a
possibilidade de escutar as canções de Syd Barrett em reedição remasterizada.
Por fim, aconteceu, naquela que é a primeira coletânea de sempre do músico. E o
prazer que constitui acompanhar em segurança a decadência dourada de um cérebro
intoxicado pelo ácido e por visões demasiado enormes para lá caberem dentro, é
agora mais forte do que nunca. Assiste-se mais de perto e com maior nitidez à
combustão criativa, à fragilidade, aos solavancos do baloiço desequilibrado mas
suficiente para servir de trave-mestra a todo o psicadelismo. Dos anos 60 até
hoje. Não importa se a caminhada no estúdio para chegar à versão definitiva de
cada canção era penoso. Isso também já dolorosamente o sabíamos através da
caixa-antologia editada aqui há tempos. Syd arrastava a voz e a guitarra ao
longo de 20, 30 takes antes do sol entrar de súbito e iluminar cada palavra
aparentemente sem sentido, cada nota da guitarra que insistia em deslizar pelos
acordes do desconhecido. “Wouldn’t you Miss me?” acena-nos do lado escuro da
Inglaterra dos anos 60, agitando a solidão colorida de clássicos-do-asilo como
“Octopus”, “Terrapin”, “Baby lemonade”, “Gigolo aunt”, “Dominoes” ou “Waving my
arms in the air”, tirados de “The Madcap Laughs”, “Barrett” e “Opel” (o disco
de raridades). Faltam pedaços da loucura mais negra e vampírica, de “Rats” e
“Maisie”, os blues como Syd os arrumava na sua cela privativa, na sua câmara de
tortura decorada com estrelas, mas o que se oferece neste “best of…” lança-nos
ao rosto o rosto da demência e estilhaços de génio. E faz-nos perceber como é
fácil o juízo de alguém desaparecer. O de Syd Barrett ficou a pairar no dorso
de um elefante efervescente.
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