20/10/2014

Syd Barrett - The Best Of Syd Barrett: Wouldn't You Miss Me?



Y 15|JUNHO|2001
escolhas|discos

SYD BARRETT
Wouldn’t you Miss me? The Best of Syd Barrett
8|10
Harvest, distri. EMI - VC

Barrett in the sky with elephants

Que o rapaz era doido varrido, já toda a gente sabia. Que os Floyd sem ele passaram a ser uma banda totalmente diferente (para melhor, dizem uns, para pior, dizem outros) também é do conhecimento público. Que após a sua saída do grupo apenas conseguiu gravar – e a muito custo – dois álbuns a solo, antes de voltar a arrastar-se para debaixo das asas da mãe e de se enclausurar no sótão onde parece que passa atualmente o tempo a jogar dominó sozinho, também é assunto documentado. Agora o que nunca tinha acontecido antes, e já devia ter acontecido, era a possibilidade de escutar as canções de Syd Barrett em reedição remasterizada. Por fim, aconteceu, naquela que é a primeira coletânea de sempre do músico. E o prazer que constitui acompanhar em segurança a decadência dourada de um cérebro intoxicado pelo ácido e por visões demasiado enormes para lá caberem dentro, é agora mais forte do que nunca. Assiste-se mais de perto e com maior nitidez à combustão criativa, à fragilidade, aos solavancos do baloiço desequilibrado mas suficiente para servir de trave-mestra a todo o psicadelismo. Dos anos 60 até hoje. Não importa se a caminhada no estúdio para chegar à versão definitiva de cada canção era penoso. Isso também já dolorosamente o sabíamos através da caixa-antologia editada aqui há tempos. Syd arrastava a voz e a guitarra ao longo de 20, 30 takes antes do sol entrar de súbito e iluminar cada palavra aparentemente sem sentido, cada nota da guitarra que insistia em deslizar pelos acordes do desconhecido. “Wouldn’t you Miss me?” acena-nos do lado escuro da Inglaterra dos anos 60, agitando a solidão colorida de clássicos-do-asilo como “Octopus”, “Terrapin”, “Baby lemonade”, “Gigolo aunt”, “Dominoes” ou “Waving my arms in the air”, tirados de “The Madcap Laughs”, “Barrett” e “Opel” (o disco de raridades). Faltam pedaços da loucura mais negra e vampírica, de “Rats” e “Maisie”, os blues como Syd os arrumava na sua cela privativa, na sua câmara de tortura decorada com estrelas, mas o que se oferece neste “best of…” lança-nos ao rosto o rosto da demência e estilhaços de génio. E faz-nos perceber como é fácil o juízo de alguém desaparecer. O de Syd Barrett ficou a pairar no dorso de um elefante efervescente.

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