Y 2|JULHO|2004
roteiro|discos
tuxedomoon
cabine de provas
TUXEDOMOON
Cabin in the Sky
Crammed,
distri. Megamúsica
8|10
Notícia
excitante: os Tuxedomoon estão vivos. Melhor ainda: gravaram um álbum novo.
Chama-se “Cabin in he Sky” e é, pelo menos, tão bom, como os álbuns clássicos
da banda de São Francisco que se estreou com “Half-Mute” na mesma editora dos
Residents e assinou a obra-prima “Desire” ou o angustiante e subterrâneo “Suite
en Sous-Sol”. Corriam os anos 80, o tempo passou entretanto, mas o melhor
permanece intacto – uma sonoridade única e canções que parecem querer desmoronar-se
a qualquer instante mas acabam por se aguentar orgulhosas na sua própria
lógica. O saxofone e teclados de Steven Brown e o violino de Blaine L Reininger
fazem o som. Um romantismo estranho (é costume dizer-se, e é capaz de ser
verdade, que os Tuxedomoon são a banda mais europeia da América) e estranhas combinações
de letras em italiano (“Diario di un egoista”, “Luther blisse”) e ambientes
cinematográficos fazem as canções. A folha de promoção não poupa nos elogios e,
ao tentar definir “Cabin in the Sky”, garante que o disco suscita no ouvinte
“impressões simultâneas de Miles Davis, eletrónica alemã, Paolo Conte,
Radiohead, Debussy, ciber-ciganos, Michael Nyman, Velvet Undergound e uma dúzia
de outros”. Descontando o prazer que é sempre ver citado Paolo Conte, o álbum é
Tuxedomoon “vintage”, ainda que, desta feita, o grupo se tenha socorrido das colaborações
de John McEntire, Aksak Maboul, Tarwater, Marc Collin, Juryman e DJHell. Mais a
propósito, a mesma folha, abre um catálogo de pintura e lança os nomes de
Pollock, Bacon, Miro e Dali. Já faz mais sentido. Cada canção é um híbrido que
abarca várias influências, constituindo-se em quadros de disformidade e de uma beleza
que atinge os píncaros do surrealismo em “La Piu Bella”, construído a partir de
um sample com a voz de um anónimo italiano. No extremo oposto, “Here ‘til Xmas”
é electro, graças à presença de DJHell, o mesmo que que há dois anos gravou uma
série de remisturas de um dos temas mais antigos dos Tuxedomoon, “No Tears”, e “Chinese
mike” combina elementos dos Cabaret Voltaire, respiração asmática, uma secção
de sopros e batida falsamente “house”, enquanto “The island” cola ondas de
poluição a ruído rosa, sintetizador borbulhante e um saxofone lânguido, num tom
mais experimental semelhante ao dos álbuns a solo de Peter Principle, e “Luther
blisset” (de novo com letra em italiano) é irresistível na junção de ritmo
tecno com “free jazz”. Há os habituais ambientes de feira, nostalgia gelada, um
baixo poderoso (“A Home away” esmurra-nos o estômago), acordeão, programações
poderosas, jazz de bordel e grandes canções, como “Baron brown”, entre a
declamação e uma “catchiness” com algo a fazer lembrar os finlandeses Wigwam. A
atitude já não é tão punk como nos primórdios mas a inteligência e a desfaçatez
continuam intactas.
Os Tuxedomoon tornaram-se uma das grandes bandas
do séc. XXI e “Cabin in the Sky” tem a elegância de um fato Armani.
Sem comentários:
Enviar um comentário