Y 6|FEVEREIRO|2004
roteiro|discos
LISA GERRARD & PATRICK
CASSIDY
Immortal Memory
4AD,
distri. MVM
6|10
Agasalhem-se,
bebam uma aguardente, cheguem-se perto da lareira. Lisa Gerrard, a voz de
mármore dos Dead Can Dance e This Mortal Coil, passeia-se pelo cemitério numa
noite de luar. “Immortal Memory” depura o gótico e as recriações de música antiga
dos Dead Can Dance, com toques de “folk” e mitologia céltica (Cassidy é um
compositor irlandês que a cantora conheceu quando trabalhava na banda sonora de
“Gladiador”) e uma grandiosidade expressa em grandes massas orquestrais, numa produção
tumular e em canções que sugam a alma até esta ficar da cor de um lençol. “The
song of Amergin” poderia passar por Enya do outro lado do espelho, na banda
sonora de uma versão de terror de “O Senhor dos Anéis”, com Lisa a invocar as
entidades do além com os seus cânticos de diva sonâmbula. A partitura de Howard
Shore para o filme de Peter Jackson parece ser, de resto, a principal
referência de “Immortal memory”, ao nível dos arranjos, a julgar por
orquestrações como as de “Maranatha” e “Amergin’s invocation”, esta a roçar a
clonagem… Evocam-se lendas e rituais solenes, perdidos no tempo e na memória
mas os grandes glaciares desta música que dança, mais ou menos ostensivamente,
com a morte, têm efeitos bem mais profundos na obra dos The Zone, Lustmord ou
nas inultrapassáveis e temivelmente belas litanias de “Zamia Lehmanni (Songs of
Byzantine Flowers)”, dos SPK.
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