13/02/2020

Um galego da Bretanha em portugal [Carlos Nuñez]


CULTURA
SÁBADO, 14 FEV 2004

Um galego na Bretanha em Portugal


Um galego. Um galego na Bretanha. Um galego, Carlos Nuñez, cidadão do mundo que hoje à noite toca no Porto, e na próxima segunda-feira em Lisboa. Carlos Nuñez volta a atuar em Portugal, desta feita para apresentar o novo álbum “Un Galicien en Bretagne”.
            Carlos Nuñez é um virtuoso da gaita. Alguém que faz milagres com o instrumento. Nada de mal-entendidos, porém. Nuñez não é nem um pornógrafo nem um Messias, mas um fabuloso executante de gaita-de-foles galega. Também de flauta e “tin Whistle”. O seu tecnicismo é de tal ordem que a mítica banda irlandesa The Chieftains o apadrinhou, convidando-o para participar no álbum “Santiago” e em inúmeros espetáculos ao vivo. Escutar Nuñez e Paddy Moloney (nas “Uillean pipes” irlandesas) tocando ao desafio é uma das delícias que a audição de folk de raiz céltica pode proporcionar.
            Mas Nuñez não necessita de padrinhos. A sua obra a solo alcançou já enorme projeção internacional. Em parte devido à estratégia de convidar para cada disco artistas de renome, em parte pela excelência de uma música que consegue conciliar o respeito pelas raízes e a inovação. Carlos Nuñez é um celta de coração e, por essa razão, um músico universalista aberto às outras culturas do mundo.
            “A Irmandade das Estrelas”, de 1996, inspirado no Caminho de Santiago, deu início a uma peregrinação que o levaria às estrelas e ao estrelato no circuito folk europeu. Entre os convidados figuram Dulce Pontes, Ry Cooder, Luz Casal, Sinead O’Connor, Paddy Moloney e a Vieja Trova Santiaguera.
            “Os Amores Librés”, de 1999, é uma interessante justaposição do Norte celta e do Sul andaluz. Nuñez experimenta novas técnicas e registos emocionais na gaita galega, inflamando-a com o fogo do flamenco. Teresa Salgueiro, Sharon Shannon, Cármen Linares, Vicente Amigo, Dan Ar Braz e Frankie Gavin estão entre os convidados.
            “Mayo Longo”, de 2000, com Liam O’Flynn e Hector Zazou, mantém a “verve” mas “Todos os Mundos”, de 2002, roça o descalabro, resvalando para fusões cuja comercialite indica eventuais pressões do mercado (os discos de Nuñez tornaram-se êxitos de vendas).
            Carlos Nuñez viu a luz vermelha e emendou a mão. O novo “Un Galicien en Bretagne” (com Gilles Servat, Dan Ar Braz, Alan Stivell, Patrick Mollard, Gilles le Bigot…) recupera o equilíbrio sem abdicar da modernidade. É um Nuñez de novo apaixonado pelas modalidades tradicionais, em particular pela música bretã. Além do mais, Nuñez tornou-se homem de muitas gaitas. O seu virtuosismo estende-se agora às “uillean pipes” e, claro, à “biniou-koz” bretã, na recriação dos ancestrais “an dro”. Esta noite, o CCB poderá tornar-se palco de uma “festounoz” – os bailes mágicos que até hoje religam a Bretanha à Eternidade.

CARLOS NUÑEZ
PORTO, Teatro Rivoli. Tel. 223392200. Às 21h30. Bilhetes entre 7,50 e 20 euros.
LISBOA, Centro Cultural de Belém. Tel. 213612444. Segunda-feira às 21h. Bilhetes entre 5 e 25 euros.

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