12/11/2008

Estrategas da heresia [Kronos Quartet]

Pop Rock

14 de Dezembro de 1994

ESTRATEGAS DA HERESIA

Responsáveis pelo desmantelamento de tabus culturais que recusavam a convivência de músicas tidas por parentes afastadas entre si, os Kronos Quartet, quarteto de cordas formado em 1973, tornaram-se nos últimos anos uma espécie de mensageiros que obrigam a repensar papéis e posições até há pouco tempo considerados estáveis e estanques na música deste século. Também nos últimos anos o sucesso do seu projecto tem chamado cada vez mais a atenção de músicos de diversas áreas que neles encontram um “input” formal diferente. Lado a lado com a justa popularidade do grupo e a importância da sua proposta, há evidentemente em todo este fenómeno uma quota-parte de movimentações ditadas por uma moda de momento. Estamos a recordar-nos por exemplo da opinião de um conceituado músico da cena “downtown” nova-iorquina, que há alguns anos actuou em Lisboa, sobre os Kronos Quartet, para quem escrevera uma composição. Dizia o tal músico conceituado que não gostava do grupo mas achava importante escrever para eles.
Seja como for, aos Kronos Quartet – que, se bem alguns se recordam, já tocou há uns anos em Portugal, no cinema Tivoli – se deve o derrube ou a abolição de muitas fronteiras. Servindo-se dos instrumentos de corda tradicionais de um modo revolucionário, extraindo deles sonoridades “heréticas”, obtidas tanto através dos métodos tradicionais como de outros bastante mais heterodoxos, os Kronos Quartet conseguem, a partir de um formato na aparência limitado a estilos musicais determinados, englobar na sua estética e nas suas estratégias, por vezes de guerrilha, a música de compositores tão distintos entre si como Shostakovich, Webern, Bartók, Ives, Piazolla, Cage, Raymond Scott e Howlin’ Wolf, Jimi Hendrix, Terry Riley, Witold Lutoslawski, John Zorn, Gorecki, Morton Feldman, Don Byron, Foday Musa Suso, Scott Johnson, John Adams, Philip Glass, Bob Ostertag, Pat Metheny e John Oswald, entre outros.
O Kronos Quartet é formado por David Harrington, violino, John Sherba, violino, Hank Dutt, viola de arco, e Joan Jeanrenaud, violoncelo.
Do programa fazem parte as peças “Mugam sayagi”, de Franghiz Ali-Zadeh, um compositor do Azerbeijão, “Dinner music for a pack of hungry cannibals”, “Powerhouse” e “Twilight in Turkey”, de Raymond Scott, pioneiro da música electrónica dos Estados Unidos, “Mtukwekok Naxkomao”, de Brent Michael Davis, um fusionista interessado no cruzamento das músicas étnicas com a electro-acústica, “Quarteto no. 4” de Sofia Gubaidulina, representante da nova música russa, “Mach”, de John Oswald, adepto das colagens sonoras e director do “Mystery Laboratory”, um complexo de pesquisa áudio e sensorial, produção e difusão, e “The book of alleged dances”, de John Adams, minimalista, neoclássico e ocasional pesquisador electrónico razoavelmente conhecido entre nós.

KRONOS QUARTET

15 de Dezembro, Caixa Geral de Depósitos

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