05/01/2015

Ester Brinkmann + Groenland Orchester + V/A "Staedtizism 2"



Y 27|JULHO|2001
discos|escolhas

ESTER BRINKMANN
Der Übersetzer – Il Traduttore
Supposé, distri. Ananana
7|10

GROENLAND ORCHESTER
Nurobic
Stora/Freibank, distri. Ananana
7|10

VÁRIOS
Staedtizism 2
Scape, distri. Ananana
8|10

Toalhas mentais

Com o calor a apertar, e sem que a música eletrónica dê sinais de abrandamento, há que achar um compromisso entre o refresco e o eletrochoque, a lazeira e a apoplexia. Com os Groenland Orchester não chega a haver dilema. À semelhança dos Schlammpeitziger, a música desta formação eletrónica alemã, oriunda de Hamburgo inserida na chamada estética do “smile” computorizado (leia-se: com raízes no krautrockliveinderfabrik amassado com bonecos dos Cluster), institucionalizou-se. O que era novidade e diversão passou a ser apenas diversão. Não que as fantasias eletrónicas montadas por Günter Reznicek (também Nova Huta, também estratega experimentalista em nome próprio) e Jyrgen Hall, perdessem o traço e a cor. Ter-se-ão até tornado mais berrantes e ganho nitidez. E paisagens familiares não implicam um passeio menos recreativo. Continuam doces como algodão de açúcar as melodias, balouçantes e suaves, como flocos de neve, as batidas, vivazes, como a imaginação de uma criança, as combinações tímbricas, dos Groenland Orchester. Títulos como “Riso up”, “Rabbi playstation”, “Fanfaren der herzen” (vivam os “vocoders” do circo Nova Huta, com dedicatória a todos os Kubins do mundo!), “Saluti da pavia” (e se os Mouse on Mars se cruzassem com os Severed Heads numa auto-estrada de mel?), “Farfalle mekon” e “Tonika oase” (olh’ó pós-rock, olh’ós Stereolab, olh’á mãozinha da Stora…) sugerem néons a piscar, armários de disfarce, férias em lugares de plástico, jogos de consola de compota… A música dos Groenland Orchester é como aqueles comboios pequenos para turistas, nas estâncias balneares: fazem viagens curtas mas cheia de atrações para olhar.
            Pelo contrário, a proposta de Ester Brinkmann (Thomas Brinkmann armado em travesti…) exige óculos e estudo. Terceira parte de um trilogia dedicada à palavra, encetada em “Totes Rennen” e continuada em “Weisse Nächte”, “Der Übersetzer” (“o tradutor”) serve-se da tecno minimal cara a Brinkmann para colar excertos ou longas dissertações faladas, nas vozes de Jannis Koullenis e do seu tradutor Edward Winklhofer. O efeito fonético é hipnótico, lembrando, por vezes, as sinfonias sónico-literárias de Robert Ashley ou os ritmos semânticos de Scott Johnson para “John Somebody”, intercalados por pedaços de dança eletrónica irresistíveis à boa maneira do autor de “Rosa” e mentor dos Soul Center. Apesar do obstáculo linguístico o córtex faz na mesma a tradução. Muito livre. Recordando que toda a palavra era na origem energia mágica.
            Com “Staedtizism 2” entramos no domínio do conceptualismo puro e da fuga absoluta às catalogações. A distinção entre forma e conteúdo dilui-se em organismos eletrónicos ou eletro-acústicos em permanente metamorfose. No geral, esta antologia soa como um pacote mais sumarento e palpável que a sua irmã “Clicks & Cuts”. O mesmo é dizer que, se as linguagens são semelhantes (click house, tecno minimal, digital ambient…), a forma como são tratadas distingue-se pela maior complexidade e diversificação de tonalidades. A destoar do circuito frio está a derivação da escola de Chicago de John Tejada numa coleção cujos melhores momentos pertencem a Burnt Friedman, com a sua sonda de dub psicadélico, e aos Beige, com algo parecido aos “Insect Musicians” de Graeme Revell. Excelente para secar o cérebro, depois do banho.


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