19/12/2016

Beijar perdidamente [Ala dos Namorados]

cultura SEGUNDA-FEIRA, 10 MAIO 1999

Ala dos Namorados soltam canções no CCB

Beijar perdidamente

“SOLTA-SE O beijo” e solta-se a música da Ala dos Namorados, agora, mais do que nunca, apostados em deixar de ser uma banda de culto. O concerto do grupo de João Gil, Nuno Guerreiro e Manuel Paulo, sábado, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, constituiu um passo gigantesco nesse sentido.
            Com um alinhamento idêntico ao do álbum ao vivo “Solta-se o Beijo”, a Ala dos Namorados ofereceu um espetáculo sem falhas e recheado de boas canções. As mais antigas e as novas. Novas, é como quem diz. “Não tragais borzeguis pretos”, por exemplo, foi composta por Gil, “no século XVI…”. Do cabaré à música de variedades, do namoro com a folk e a clássica ao fado, das memórias brasileiras a inflexões “jazzy” animadas por um swing subtil, a Ala soltou-se num beijo que levou a assistência a aplaudir de pé.
            Tudo brilhou:  os castiçais com velas que iluminavam o palco de mistério, os acentos tímbricos e os rendilhados dos clarinetes de José António Santos, as vagas de piano de Manuel Paulo, a fonte de reflexos acústicos da guitarra de João Gil. E, obviamente, a voz de Nuno Guerreiro, em viagens entre a terra e o céu. Uma voz que em “Alice” foi um espetáculo dentro do espetáculo.
            As vozes convidadas das Vozes da Rádio fizeram miséria na forma como se movimentaram, dentro de um mesmo tema, entre a sátira e a elevação. Sara Tavares fez com que as palavras escritas por Catarina Furtado para a canção “Solta-se o beijo” ganhassem uma segunda vida. Já no mais do que merecido período de “encores”, Nuno Guerreiro cantou nas alturas um fado com dedicatória a Amália. E com todos os músicos reunidos em palco a cantarem em conjunto com o público “Perdidamente”, de Luís Represas, atingiu-se a euforia.

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