05/12/2016

À mesa com Biosphere

CULTURA
QUARTA-FEIRA, 5 DEZ 2001

Crítica Música

À mesa com Biosphere

Biosphere
Auditório de Serralves, Porto
1 de Dezembro, 22h
Sala esgotada

A montanha pariu um rato. A montanha não, a biosfera. Biosphere, projeto multimédia do norueguês Geir Jenssen, esgotou no sábado passado o auditório de Serralves, no Porto, mas deixou um travo amargo na boca de todos os que esperavam luzes, imagens e paisagens a a acompanhar as sonoridades rarefeitos e a eletrónica contemplativa que podem ser escutadas em álbuns como “Substrata” (reeditado recentemente em formato remasterizado) e “Cirque”. Em vez disso, apanharam com um indivíduo tímido, sentado à mesa, em frente a um minúsculo “powerbook”.
Faltaram meios financeiros ou vontade à organização, para trazer a Portugal o projeto completo, que ainda recentemente encheu e maravilhou uma sala de grandes dimensões, em Londres, num espetáculo descrito por alguns como memorável? A verdade é que Portugal teve apenas direito à música e, mesmo esta, oferecida em deficientes condições.
Problemas técnicos afetaram a manipulação em tempo real do computador, interpondo comprometedores silêncios ou súbitos apagamentos do som, no meio de uma música que vale também como continuum para fazer funcionar em pleno a sua dimensão onírica. Geir Jenssen teve mesmo que murmurar um tímido “I’m sorry” (de resto a sua única intervenção falada...), o público reagiu com compreensão, mas a verdade é que tudo soube a pouco, como se de uma audição caseira dos discos se tratasse. Sob um foco de luz que passou do rosa ao azul, com passagem pelo escarlate, contra um insondável fundo negro, o norueguês pouco mais fez que mexer impercetivelmente os dedos sobre o teclado do “powerbook”, dando ainda por cima a ideia de que os sons seriam na totalidade pré-gravados, o que reduziu ainda mais a margem de comunicação e a espontaneidade da sua performance.
Em vez do planetário, os planetas e estrelas de Biosphere foram servidos à mesa como mero aperitivo. Ficou-se com fome.

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