PÚBLICO SÁBADO, 20 ABRIL 1991 >> Local >> Televisão
“La
dulce vita”
ADIVINHA-SE
Paolo Conte no cruzamento de Nova Orleães, Hollywood e um pátio italiano,
sentado ao piano, semblante sorridente de “matador”, a ponta do bigode grisalho
ligeiramente húmida de vinho.
Quando canta “La vera musica” numa voz
rouca de tenor, as luzes baixam e o fumo de cigarros matiza de sonhos
desfocados o veludo vermelho por trás do palco vazio. Noites de álcool. Bailes
de anos passados na varanda do casino frente à praia. Amigos e amantes de quem
já não se recorda o nome. Uma taça de champanhe erguida, de madrugada, à saúde
de todos e ninguém, numa esplanada de Inverno à beira-mar. A doce vida.
Conforme a disposição, Paolo Conte
canta os “blues”, cançonetas populares de faca e alguidar ou “pastiches” de
Frank Sinatra, ao sabor ritmado dos copos, tangos e “passe dobles” vibrantes de
“swing” – só, defronte de um piano que “andou a beber”, tal qual o de Tom
Waits, ou em equilíbrio precário sobre orquestrações nascidas do casamento de
Nino Rota com Carla Bley.
“Hemingway”, “Dancing”, “Blue Haways”,
“Boogie”, “Un Gelato al Limon”, “La Vera Musica”, “Chi Siamo Noi” ou “Diavolo
Rosso” são algumas das maravilhas incluídas no duplo álbum coletânea “I Primi
Tempi” e a melhor maneira de aceder ao universo surreal do cantor. Para seguir
viagem, sugere-se a audição de “Paolo Conte”, “Paris Milonga” ou “Appunti di
Viaggio”, recentemente editados em CD. Sobram razões para assistir esta noite
ao espetáculo de Paolo Conte, ao vivo na cidade suíça de Locarno.
Canal
2, às 00h30
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