01/10/2016

John Mayall + Peter Green

POP ROCK Quarta-feira, 7 Maio 1997

reedições

A sós com os blues

JOHN MAYALL

Crusade (8)
The Blues Alone (7)
Deram, distri. Polygram

PETER GREEN
Bandit (7)
Milan, distri. BMG

apadrinhado, no início dos anos 60 pelo lendário Alexis Korner, John Mayall encetou, pelo seu lado, um movimento de renovação dos blues brancos da escola inglesa, formando os Bluesbreakers, grupo que esteve na base do consequente “boom” de “rhythm ‘n’ blues” em Inglaterra. Por esta formação passaram músicos importantes, que viriam a integrar, mais tarde, outras formações, como os guitarristas Eric Clapton (Cream), Peter Green (Fleetwood Mac) e Mick Taylor (Rolling Stones), os baixistas John McVie (Fleetwood Mac), Jack Bruce (Cream) e Tony Reeves (Colosseum), os bateristas Aynsley Dunbar (Mothers of Invention) e Keef Hartley (Keef Hartley Band), os saxofonistas Dick Heckstall-Smith (If e Colosseum), Chris Mercer, Johnny Almond (Mark Almond) ou o trompetista Henry Lowther.
                “Crusade”, gravado em 1967, é uma homenagem aos blues e ao seu público minoritário, em que Mayall recria o reportório de alguns dos seus “bluesmen” preferidos, como Freddie King, (Little) Eddie Kirkland, Willie Dixon, Joseph Valery e Sonny Boy Williamson, ao lado de composições da sua autoria. Imparável em matéria de “swing”, com uma formação que integrava, além de Keef Hartley, John McVie e Mick Taylor, os saxofones de Chris Mercer e Rip Kant, “Crusade” demonstra toda a versatilidade de John Mayall (em 12 temas, recorre a 10 escalas diferentes) na composição, bem como os seus talentos na guitarra, harmónica, teclados e, claro, o registo vocal “cool” que era seu timbre.
                No mesmo ano, John Mayall grava “The Blues Alone”, experiência solitária em que toca todos os instrumentos (incluindo cravo e bateria), à exceção do acompanhamento, nalguns temas, de Keef Hartley, na bateria. A força e o “drive” rítmico, só possível num coletivo, ressentem-se, mas, se outra razão não existisse para distinguir este disco, bastaria o facto de contar com um dos temas mais belos alguma vez escritos nos anos 60, a balada “Broken wings”. Faltava pouco tempo para surgirem os dois monumentos erigidos por John Mayall aos blues: “Bare Wires” e o revolucionário “Blues from Laurel Canyon”, que criaria o blues progressivo, género que viria a ser abraçado por quase todas as bandas inglesas ao longo da fase inicial do progressivo, até 1969.
                Peter Green abandonou os Bluesbreakers após a gravação do álbum anterior a “Crusade”, “A Hard Road”, entrando para os Fleetwood Mac, antes de se dedicar em exclusivo ao misticismo e à religião. “Bandit” é uma coletânea de temas extraídos de vários álbuns da discografia do músico, incluindo “In the Skies” (também o título de um “hit” seu, da época), que deixa bem vincado o tom de desolação e despojamento que caracterizava o seu estilo na guitarra. Um blues monocórdico, balouçante e enigmático, que aqui encontra a sua máxima expressão no desespero resignado de “Lost my love”.

Sem comentários: