Quarta-feira, 16 Abril 1997 POP
ROCK
poprock
Krautrock parte 2
KREIDLER
Weekend (8)
Kiff,
distri. Megamúsica
TO ROCOCO ROT
Veiculo (8)
City Slang,
distri. Música Alternativa
recentemente,
a propósito do disco dos Scenic, escrevemos sobre algumas das limitações que
desvalorizam um número razoável das novas bandas alinhadas no “pós-rock”. Não
basta amontoar batidas maquinais, guitarras abstratas e ambientes nevoentos.
São necessários um propósito e uma estética individualizados, o conhecimento da
tradição animado por um genuíno propósito de evolução.
Os Kreidler, como os To Rococo
Rot, têm, à partida, uma vantagem sobre a concorrência, são alemães, naturais
de Dusseldorf, estando, por este motivo, localizados no próprio “local do
crime”, a Alemanha, sede, nos anos 70, das bandas inspiradoras do movimento:
Cluster, Neu! E, precisamente, La Dusseldorf. Ainda que Stefan Schneider,
mentor dos dois projetos, prefira citar, como fonte de inspiração, os Can,
afastando-se quer daquelas bandas quer da concorrência dos grupos de Chicago
como os Ui e Tortoise.
Com “Weekend”, álbum totalmente
instrumental, os Kreidler têm legitimidade para se reivindicar herdeiros do
“krautrock”, de novo na crista da onda (a revista “Mojo” dedica ao movimento a
capa e 24 páginas da sua edição de Abril!). Imaginativo e conceptualizante nas
suas construções horizontais que remetem para fórmulas musicais marcadas por
forte componente histórica e simbólica, “Weekend” recupera os microcosmos
fechados dos Cluster, em temas como “Sand colour classics”, “Polaroid” e
“Hillwood”, e as progressões marciais dos Neu! e La Dusseldorf, em
“Reflections”. Seguem, inclusive, a mesma técnica de títulos de faixas com uma
única palavra (“Shaun”, “Spat”, “Lio”, “Desto”, “Hillwood”, “Reflections”,
“Telefon”, “If”), servindo de referencial a esses cursos universos destituídos
de romantismo mas dos quais se desprende, ainda, uma estranha poesia.
Os To Rococo Rot (Schneider com
os irmãos Robert e Ronald Lippok) são ainda mais minimalistas e frios do que os
Kreidler. E se na música destes últimos se apanham ainda vestígios de um humor
que nos Cluster de manifestou no delicioso “Zuckerzeit”, nos Rococo avultam os
ciclos fabris dos dois primeiros álbuns da dupla Moebius/Roedelius, “Cluster” e
“Cluster II”. “Veiculo” é pele contra metal, algoritmo de uma lógica implacável
em progressão para um impossível clímax. Como em “Crash”, de Cronenberg, pulsão
sexual destituída de paixão.
Em qualquer dos casos é uma
outra música, caracterizada pela frieza e pela distância, que vem preencher os
gráficos do imaginário tecnopsicológico dos anos 90. Na ficha técnica de
“Weekend” os Kreidler fazem uma saudação a Klaus Dinger, figura proeminente da
primeira geração do “krautrock” e membro dos Kraftwerk, Neu! e La Dusseldorf. A
Alemanha volta a agitar-se com as manobras dos novos “men machine”.
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