CULTURA
TERÇA-FEIRA,
29 JUL 2003
Crítica
Música
Boa onda em música para as multidões
Kronos Quartet +
Kad Achouri + The Skatalites
(Festival
Músicas do Mundo)
SINES
Castelo
Sábado,
às 21h30. Lotação esgotada.
Terminou no sábado
a 5ª edição do festival Músicas do Mundo de Sines. Com a festa do costume, a
cargo dos The Skatalites, engalanados com o fogo de artifício da praxe, mas a atuação
entusiasta (para muitos entusiasmante), desta instituição do "ska"
não chegou para tirar o Músicas do Mundo de uma certa ideia de massificação e
de ter sido, em termos de música ouvida, um dos piores da sua história.
Compreende-se
a opção da organização – impecável, nos aspetos logísticos – em ter como
principal preocupação para este ano, levar ao castelo o maior número possível
de pessoas. Em época generalizada de crise e de falta de apoios camarários, era
preciso mostrar serviço. Objetivo cumprido a 100 por cento. Nunca como neste
ano o público comparecera de forma tão maciça, lotando por completo o interior
do castelo. 5000 entradas vendida por noite, na sexta-feira e no sábado, não
impediram que outras tantas centenas ficassem de fora e tivessem que se
contentar em assistir ao festival através do ecrã gigante afixado num dos muros
do castelo.
Mas
se a aposta no público foi ganha o mesmo não se pode dizer da qualidade
musical. À exceção dos Danças Ocultas e do grupo afegão Ensemble Kaboul, aos
quais se juntaram, no último dia, os Kronos Quartet, tudo o resto esteve abaixo
do que seria lícito esperar, nalguns casos pautando-se pelo pior que a
"world music" tem para oferecer: sopas incaracterísticas que de
étnico já pouco ou nada têm, embaladas em papel de fusão e batidas preguiçosas
que lá vão chegando para pôr as pessoas - mais preocupadas em curtir a todo o
custo do que em ouvir música pela música - a dançar. Foi pena que os Kronos
Quartet mal se pudessem ouvir. Com um volume de som baixíssimo, a música
chegava como um sussurro à zona mais recuada do castelo, soando como
acompanhamento de luxo de um estado de espírito geral que não estava para aí
virado. A dado momento pararam mesmo de tocar, perdendo-se largos minutos na
resolução de um qualquer problema técnico. Por fim lá reentraram no seu mundo
privado, em Sines preenchido por composições do álbum "Nuevo", mas
também por uma curiosa versão de um tema dos Sigur Rós.
Kad
Achouri, que atuou a seguir, foi confrangedor. Chamar "world" à sua
mistela pimba de sons afro-latinos sobre ritmos tcham-tcham-tcham é ofensivo
para as tradições do planeta. O que este francês de origem argelina fez em
Sines, em nome de uma modernidade que ele se encarrega de trair, caberia
perfeitamente numa daquelas emissões da nossa televisão que animam as tardes de
praia, entre um passatempo e uma Cola, de tal forma o popular desceu à cave do
popularucho. As liberdades permitidas pelo seu álbum "Liberté"
estatelaram-se na permissividade. Imaginem um Manu Chao de refugo. Kad Achouri
nem sequer foi pândego.
No
fecho do festival, os The Skatalites vieram da Jamaica e não interromperam por
um só minuto a sua descarga de "Ska" mesclada de rhythm 'n' blues.
Verdade seja dita que o ritmo se manteve inalterável do princípio ao fim o que,
se serviu às mil maravilhas a sua finalidade dançante, matou, por outro lado,
qualquer veleidade em fazer algo mais subtil. O fogo de artifício – este ano
também em regime económico e menos espetacular do que tem sido hábito –
interrompeu a música um pouco a despropósito mas nada pareceu perturbar a boa
onda que caracteriza o Músicas do Mundo.
Bom
seria que para o ano se repensasse o rumo que este festival tenciona tomar. É
que música de qualidade e com menos concessões não é incompatível com a adesão
das massas, como de resto as anteriores edições já fizeram questão de
demonstrar.
EM RESUMO
O festival Os Kronos Quartet,
apesar do baixo volume de som, salvaram o terceiro e último dia do Músicas do
Mundo mas a festa veio com os The Skatalites. Kad Achouri foi para esquecer.
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