24/10/2019

Folk de luxo no Intercéltico de Sendim


CULTURA
SEXTA-FEIRA, 1 AGO 2003

Folk de luxo no Intercéltico de Sendim

DE HOJE A DOMINGO

Ambiente, programação internacional de qualidade e uma ligação forte à comunidade local fazem do Intercéltico de Sendim um festival único. Da Irlanda chega a lenda dos Dervish

No princípio de Agosto, os sons da terra irrompem na zona de Miranda, em pleno coração de Trás-os-Montes. Quem quiser participar do ritual em que se tornou o Festival Intercéltico de Sendim tem as poções, mezinhas, amuletos, rezas e encantamentos da cultura tradicional transmontana e, por consequência, de raiz celta, à disposição. E, acima de tudo, uma grande programação folk, inserida num ambiente e paisagem paradisíacos.
            A presença de um só grupo bastaria para levar a Sendim todos os apreciadores de folk céltico: os Dervish, num regresso a Portugal que se prevê, dado o contexto especial deste festival, apoteótico. O grupo irlandês tem na voz da extraordinária Cathy Jordan um elemento determinante na relação de paixão que sempre se estabelece com a sua música. Jordan é a Irlanda profunda mas também a Irlanda sem idade que soube unir a cultura tradicional de transmissão oral a uma visão urbana da folk que tem como principal mandamento aprender e reatualizar as lições do passado, adaptando-as a uma linguagem e vivência contemporâneas. Álbuns como “Harmony Hill” (1993), “Playing with Fire” (1995), “At the End of the Day” (1996) e “Midsummer’s Night” (1999) são clássicos da folk céltica europeia. O novo, “Spirit”, estará à venda na Feira do Disco do festival.
            Outra banda importante que vai estar em Sendim são os Luétiga, da Cantábria, liderados pelo gaiteiro Roberto Diego. A originalidade dos seus arranjos pode ser verificada em álbuns como “La Ultima Cajiga” (1992), “Nel ‘El Vieju’” (1994), “Cernéula” (1996) e “Cántabros” (1999).
            Vindas da Galiza, as Leilia representam a mais genuína tradição dos cantos “alalas” e das pandereitadas, mas nos últimos anos o seu projeto tem vindo a desenvolver-se em direção a novos horizontes, estando previsto apresentarem-se em Sendim acompanhadas por um grupo instrumental. Os Tejedor, das Astúrias, nos quais sobressai outro gaiteiro, José Manuel Tejedor, prometem uma das actuações mais explosivas do festival, enquanto outro grupo proveniente de Espanha, Castela, os Balbarda, poderá ser a revelação deste Intercéltico com organização da Cooperativa e editora Sons da Terra. Os Lenga-Lenga, do gaiteiro transmontano Henrique Fernandes, provam que os sons e costumes locais têm o futuro salvaguardado.
            Festivais há muitos. Mas é a chamada “vibração” específica de cada um que permite medir o seu grau de crescimento e de sucesso. O Intercéltico de Sendim – na sua 4ª edição – tem esse enorme trunfo de radicar direta e profundamente nas tradições locais, acrescentando ao programa de concertos atividades como um “Passeio na Natureza”, “Arribas Radical” (“rappel” nas vertiginosas arribas do Douro interior), visitas guiadas por Sendim, animação de rua por gaiteiros do centro de Música Tradicional Sons da Terra e pelo Grupo de Bombos de Teruel (Aragão) e as exposições “D’Ouro d’Aléndouro” e “A Natureza que Temos”. Ficam reservadas as surpresas proporcionada pela ingestão, na Taberna dos Celtas (onde a música acontecerá em regime de sessões improvisadas) de um misterioso licor celta. No domingo, porém, as almas sararão, ao assistirem à já tradicional Missa Intercéltica, a celebrar na Igreja Paroquial, ao som das gaitas-de-foles.

Festival Intercéltico de Sendim
SENDIM, Recinto principal
Hoje, a partir das 22h
LENGA-LENGA, LEILIA,
TEJEDOR
Amanhã
Balbarda, Luétiga, Dervish
Bilhetes a 8 euros.
Domingo, às 13h
Missa Intercéltica.
Entrada livre.

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