CULTURA
DOMINGO,
28 SET 2003
Coimbra teve mais
encanto na hora dos Rolling Stones
Vêm de todo o país
e são de todas as idades. Os fãs de Stones aguardaram horas a fio pelo concerto
com excitação. A banda parece não desiludir. A transbordar de energia, entra no
palco com a força toda e leva a multidão ao rubro.
Os Rolling Stones atuaram ontem à noite em
Coimbra, num concerto considerado como o maior de sempre em Portugal e num espetáculo
que aliou a tecnologia à entrega da banda em palco.
Horas antes do concerto, Coimbra
ardia de excitação. "Estás a senti-la subir?", grita um jovem para
outro no interior de um dos vários autocarros que a câmara disponibilizou (um
euro por cabeça) para transportar os fãs até ao estádio. Refere-se à adrenalina,
evidentemente. A terceira vinda dos Stones a Portugal é, para todos os efeitos,
um acontecimento.
Para a imprensa, porém, a excitação
é de outra ordem. Um sem número de exigências obrigam os jornalistas a
permanecer fora do recinto uma hora e meia a mais do que o previsto. Depois de
se falar na necessidade de ter que assinar um termo de responsabilidade, no
final acaba toda a gente por entrar com um bilhete vulgar. Lá dentro o estádio
está à pinha e os Xutos já disparam o seu rock'n'roll com pontaria. A seguir hão
de tocar os Primal Scream e só depois entrará em cena a banda dos sexagenários
que dá pelo nome de Rolling Stones. A expectativa é enorme.
Eduardo, 49 anos, diretor comercial,
veio de Lisboa. Esteve em Alvalade em 1995 e comparece em Coimbra para ver se os
Stones "ainda estão em forma". Espera ouvi-los tocar a sua canção
favorita, "Simpathy for the devil". Um álbum do seu agrado?
"'Sticky Fingers' - mas não se diz porque parece mal." Eduardo
considera os Stones "uma memória, uma banda sem futuro", aproveitando
para frisar que também está aqui para ouvir os Primal Scream, de quem recorda o
álbum "Screamadelica".
Já o Carlos, 24 anos, é da opinião
que "os concertos do grupo em Portugal são um marco". Veio de Lisboa
e conhece o grupo há cinco, seis anos, através dos discos do pai "que
andavam espalhados pela casa". Tem "expectativas muito altas" em
relação ao concerto e confessa: "Nunca se sabe quando os Rolling Stones
vão a qualquer país se é a última vez. Pode ser um acontecimento
histórico!"
Miguel tem 45 anos e é médico
dentista. Veio da Figueira da Foz "impreterivelmente" para ouvir os
Stones. "Significam a minha juventude, horas e horas a ouvir músicas como
'(I can’t get no) Satisfaction'". Trouxe consigo o filho, António, de 11
anos. "Foi ele que quis vir". Apesar de gostar mais dos Xutos e dos
Red Hot Chili Peppers, o António também gosta dos Stones, citando mesmo a sua
canção preferida, "Angie".
A excitação cresce entretanto. Os
Primal Scream já estão em palco e os níveis de adrenalina continuam a subir.
Mas não para todos. A Madalena, 18 anos, que veio de Vila Franca de Xira sem os
pais, está aqui apenas "para se divertir". Embora ache piada aos
Stones, o seu artista preferido é Bob Marley. Também indiferente ao rock ácido
dos autores de "Screamadelica", o Carlos, 29 anos, guia-intérprete,
veio diretamente de Portimão. Os Primal Scream não lhe "dizem nada",
por isso prefere ficar no bar a beber uma cerveja (imperial a 1,50 euros). Os
Stones são outra coisa: "um grupo tão querido dos mais velhos como dos
mais novos, apanham toda a gente dos 12 aos 70 anos". E remata: "São
um caso único em que a teoria não conta. Na prática continuam a tocar como
rapazes de 25 anos", diz, reconhecendo embora que "lá virá o dia em
que dirão que acabou". Enquanto esse dia não chega, "continuam com a
força toda". É a verdade nua e crua.
Já passa das 22h quando os Rolling
Stones começam a tocar. A lenda do rock entra mesmo com a força toda, pondo de
imediato a multidão em delírio, aos gritos de "Portugal! Portugal!
Portugal!". Entram a todo o gás com "Brown sugar" e, uma vez
mais, a magia "branca ou negra, pouco importa", acontece. Segue-se
"Start me up" e os Rolling Stones e os seus fãs tornam-se uma pessoa
só. Mick Jagger agita-se, salta e saúda em português: "Olá Coimbra, olá
Portugal, é bom estar de volta!". Continua tudo igual, ou melhor, os
Rolling Stones parecem confirmar que assinaram, de facto, um pacto com o diabo.
A energia transborda e, a julgar pelo que se vê e ouve em Coimbra, o contrato
não perdeu a validade.
Após as anunciadas duas horas de
concerto, o público português não teve direito a "encore", mas em
compensação foi brindado com um minuto de fogo de artifício.
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