CULTURA
SÁBADO,
20 SET 2003
Improvisação sem
rótulos no Festival Co-Lab
Chris Cutler,
Eugene Chadbourne, Phil Minton e Jon Rouse são os convidados de honra do
festival internacional de música experimental/improvisada do Porto
Co-Lab,
laboratório de colaborações musicais em torno de um conceito de liberdade que
nasce da improvisação. É também nome de festival: Co-Lab, Festival
Internacional de música experimental/improvisada – de hoje a 28 no Teatro
Carlos Alberto, no Porto –, um dos menos comprometidos com as regras do
"mainstream", ao qual não escapam nem as "novas músicas".
Diz a organização que "de fora, ficam todos os rótulos – free jazz, rock
progressivo, minimalismo, pós-serialismo and so on". Descontando o
"and so on", género ainda pouco conhecido entre nós, o Co-Lab
despreza, de facto, o imobilismo e a arrumação em prateleiras.
As atenções centram-se em quatro
nomes sonantes da música improvisada europeia: Chris Cutler, Eugene Chadbourne,
Phil Minton e Jon Rose. Vão colaborar uns com os outros, trocar ideias e sons,
em formatos que vão do solo ao quarteto.
Chris Cutler é o baterista-aranha
(os seus ritmos estendem-se dos materiais mais elementares à bateria
eletrónica), o anarquista, o esteta e o apreciador de vinhos que militou nos
anos 70 e 80 em algumas das mais importantes formações de "art rock",
como os Henry Cow, Art Bears, News from Babel e Cassiber, imbuídas do espírito
de intervenção política que levou à criação da cooperativa "Rock in Oposition".
Onde a música nasce espontânea, lá está ele a impor a ordem, a única não
totalitária, que advém da inteligência, em colaborações que vão de antigos
colegas seus nos Henry Cow, como Fred Frith, a Lutz Glandien e aos portugueses
Telectu.
Eugene Chadbourne é o guitarrista
excêntrico que adaptou a música de Bach ao banjo. Transforma numa espécie de
"country music" de insetos Duke Ellington e Albert Ayler e colaborou
com os Butthole Surfers, rockers sujos e subversivos. Não menos desalinhado,
Jon Rouse é o violinista sem escalas nem modelos fixos (incluindo os dos
violinos que toca, mutações aberrantes que fariam arregalar os olhos de espanto
a Paganini: mecânicos, eólicos, de duplo braço, etc.) e o humorista que já
gravou um "Music for Restaurants", com direito a poesia fonética e
colagens delirantes em ementa de "haute cuisine" musical.
Phil Minton, o vocalista doido que
canta como se estivesse a viver os últimos segundos de vida e o homem que, na
sua estreia ao vivo em Portugal, quase nos atingiu em cheio com uma escarreta
(sim, o canto de Minton tem origem no fundo) proveniente de uma
"performance", digamos, mais visceral, completa o quadrilátero de
grandes improvisadores deste Co-Lab (dias 24, 26 e 28, às 21h30).
Os portugueses
Paulo
Raposo, músico e videasta dos Vitriol, junta forças com o alemão Marc Behrens,
criador de atmosferas eletrónicas, e Jeremy Bernstein, autor de um
"ambiente informático multidimensional de processamento de dados"
(hoje, às 21h30). Pierre Redon improvisará ao lado de Etsuko Chida. O primeiro,
influenciado por Cage e Derek Bailey, faz "uma música que tem sobretudo em
conta a espacialização da matéria sonora, a polifonia e uma construção rítmica
alicerçada sobre pulsações irregulares". A segunda toca koto (instrumento
tradicional japonês) e canta (hoje, às 21h30).
Ernesto Rodrigues, com Guilherme
Rodrigues, Manuel Mota, José Oliveira e Margarida Garcia, são outras presenças
portuguesas no Co-Lab (dia 24, às 21h30). Ernesto Rodrigues, esgotada a
paciência com o rock, dos tempos em que integrava a banda de Jorge Palma,
partiu para os limites mais radicais da música improvisada até chegar à chamada
"micro-música" ou "near silence", apropriação das diretivas
de John Cage, mestre-escultor do silêncio ou, melhor dizendo, poeta-cientista
munido de microscópio sonoro de alta potência.
Festival Co-Lab
PORTO
Teatro Carlos Alberto. Tel.: 223401910. Hoje e dias 24, 26 e 28, às 21h30.
Bilhetes de 7 a 15 euros.
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