CULTURA
TERÇA-FEIRA, 15 JUL 2003
Crítica
Jazz
Wayne
Shorter em luta com o piano
Wayne Shorter
Quartet
ESTORIL
Auditório do Parque Palmela, às 21h30
Lotação
esgotada
Sábado, em mais um
concerto do festival Estoril Jazz/Jazz num Dia de Verão, Wayne Shorter e o seu
quarteto tiveram o tempo do seu lado, mas o grande jazz nem por isso. O
auditório ao ar livre do Parque de Palmela, no Estoril, estava à pinha,
esgotando por completo a lotação, algo que, segundo a organização, não
acontecia desde o mítico concerto de Count Basie neste mesmo festival. A chuva
ameaçou, ameaçou, mas conteve-se. O mesmo aconteceu com o quarteto. Ameaçou com
grandes feitos, mas acabou por quedar-se por um jazz eclético e sofisticado, alimentado
por longas improvisações e reconhecida competência, mas longe de se lançar à
conquista daqueles momentos únicos que fazem a história dos grandes concertos.
Shorter rolou com força no saxofone
tenor, explorando timbres e respirações, mas travou-se de razões com o soprano
– aquele que lhe granjeou merecida fama – passando largos minutos, a meio de um
tema, a procurar o ajustamento certo da palheta, experimentando e voltando a
experimentar a afinação, enquanto os outros três músicos se entretinham a
soltar metros de música de fundo, à espera que o seu líder se decidisse a
fornecer as coordenadas. Nos momentos, porém, em que a música se libertou do preciosismo
técnico, o saxofonista mostrou todas suas capacidades, ora em “stacattos” que
parecia implorar pela loucura (que não veio…), ora desenrolando dilúvios de
notas alinhadas com a elegância de uma dança.
Danilo Perez mostrou ser um pianista
fora do vulgar. Harmonicamente dotado, embora sem rasgos de virtuosismo,
mostrou preferência por fraseados classizantes, outras vezes encostando-se ao
exotismo “world” proporcionado pela sua ascendência (nasceu no Panamá),
ocasionalmente monkiano, foi ainda, surpreendentemente e decerto que por acaso,
progrocker dos quatro costados, ao repetir, numa quase citação, as notas de um
dos movimentos de “Tarkus”, dos Emerson, Lake and Palmer (!).
John Patitucci é o típico baixista
jazzrock. De uma concisão extrema, usou e abusou das vibrações da corda solta,
mantendo-se quase sempre nos tempos rápidos e em boa sintonia com a rítmica
fornecida por Brian Blade, na bateria, operário razoavelmente imaginativo na
forma como acentuou e ornamentou os tempos fracos.
Isento, à justa, do tormento da
chuva, o público aplaudiu de forma civilizada (raramente o fez a premiar este
ou aquele solo) e pediu um “encore”, provavelmente a pensar já na forma como,
já na próxima sexta-feira, receberá outra figura lendária do jazz
contemporâneo, o contrabaixista Dave Holland, a liderar uma “big band”, no CCB,
em Lisboa, no que será o concerto de encerramento desta edição número 22 do
Estoril Jazz/Jazz num Dia de Verão.
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