09/10/2008

Jefferson Airplane

Pop Rock

29 MAIO 1991
REEDIÇÕES

JEFFERSON AIRPLANE
Surrealistic Pillow **
Crown of Creation ***
Volunteers **
CD / RCA, distri. BMG

Começa a fartar, a década de 60. Tudo o que é “Sixties” é bom. Nesse tempo é que era. Os ideais, a luta contra o “establishment”, gozar à brava, enfim, a grande farra. A música desses anos conturbados reflecte a confusão. Desde os percursores aos mártires, passando pelos oportunistas, há de tudo um pouco. Mais ou menos por volta de 1966, eclodia na costa Oeste dos Estados Unidos, mais concretamente na cidade de São Francisco, um movimento que se convencionou chamar de “psicadélico” ou, para outros, de “acid rock”, o que, na prática, vai dar ao mesmo. O mesmo é obviamente o ácido, lisérgico, vulgo LSD, que o professor Leary, na época, apregoava como panaceia universal. Exploração dos espaços interiores, libertação dos sentidos, comunicação directa com os deuses – eram as explicações mais vulgares que justificavam o consumo desregrado de substâncias que faziam ver estrelas durante o dia e permitiam falar de igual para igual com os nossos “irmãos”, apenas mais atrasados evolutivamente, como as ratazanas ou os pepinos.
Os músicos experimentaram, para ver como é que a coisa resultava, em termos de inspiração. Como em tudo, resultou bem com uns, pessimamente com quase todos. Os bons ficavam óptimos. Os maus, geralmente tocavam dois acordes de “sitar”, faziam “V” com os dedos e caíam para o lado, com um sorriso beato nos lábios. Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix e mais nuns tantos que a história ignorou, foram até às últimas consequências, com os resultados que se conhecem. Os outros, ex-“hippies”, reconvertidos às delícias da sociedade de consumo, ajudaram a fazer o folclore.
Na tal costa Oeste, a tríade de “psicadélicos” célebres incluía os Grateful Dead, de Jerry Garcia, ainda em actividade, os Quicksilver Messenger Service e os Jefferson Airplane. Na maior parte das vezes o mito ultrapassou a realidade. Dito de outro modo, a música não sobreviveu ao teste temporal. Dos Jefferson fizeram parte grandes músicos (Paul Kantner, Marty Balin, Jorma Kaukonen, Jack Casady) e uma voz razoável (Grace Slick). Na época, os três álbuns agora reeditados fizeram furor, sobretudo o primeiro (1967, terceiro nos tops americanos), de “Somebody to love” e “White rabbit”, hinos do psicadelismo, respectivamente ao “amor livre” e ao consequente disparo em flecha da taxa de natalidade, daí a subtil alusão aos coelhos que, como toda a gente sabe, etc. “White rabbit” chegou mesmo a provocar problemas com a editora, motivados pela referência explícita às drogas e à palavra “shit”. O pior é que as restantes canções se ficam pela normalidade, sem quaisquer rasgos de génio ou, pelo menos, já que se pretendiam “psicadélicos”, de uns toques de exotismo que então deleitavam os jovens que dos relvados públicos faziam local privilegiado para as suas viagens astrais. “Crown of Creation” é melhor. Mais esquisito. Tem sons que já poderemos chamar de “psicadélicos”. “Chuchingura”, por exemplo, do título à mescla de sons abstractos, é totalmente incompreensível, o que, no género, se pode considerar bom e desejável. “Lather”, composto e cantado por Slick, distingue-se do resto, pela positiva, nas colaborações “folky”, na estranheza não despropositada do arranjo, na intemporalidade de uma melodia realmente inspirada. Destaque, ao longo de todo o disco, para as guitarras, por vezes completamente alucinadas, de Jorma Kaukonen e Marty Balin. Dos cogumelos atómicos e alucinogénicos de “Crown of Creation” passou-se, em “Volunteers”, às “stars & stripes” nacionais, às canções de protesto e ao encosto às sonoridades “country” (o disco inclui dois tradicionais), sem que, da mudança táctica, resultassem melhorias significativas. Aos Jefferson Airplane faltou sempre a chama do génio que, ainda hoje, guia “iluminados” do movimento, como Jerry Garcia e os seus Grateful Dead. Só voa quem sabe.

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