14/12/2014

Polly super rock [Concertos 2001]



QUINTA-FEIRA, 28 DEZEMBRO 2000 cultura

Rickie Lee Jones e P. J. Harvey no Festival Super Bock

Polly super rock

Os três primeiros meses dos próximos mil anos não vão trazer grandes novidades em termos de concertos pop e rock. Além da chusma de DJ e de “habitués” dos festivais, Portugal irá receber o género “americana” dos Calexico e a pop artesanal dos Magnetic Fields. E estender a passadeira a quatro “personalidades”: o “punk tornado erudito” Joe Jackson, o dinossauro Eric Clapton, e duas grandes senhoras da canção, Rickie Lee Jones e P. J. Harvey.

A primeira boa notícia é que não se prevê para o primeiro trimestre do novo milénio qualquer atuação ao vivo em Portugal (seria para aí a 48ª…) dos Gene Loves Jezebel. Aproveite-se para ouvir e fazer outras coisas. Dançar, por exemplo, ao som do DJ inglês Fabio que atuará no Lux a 11 de Janeiro. Soul, funk e jazz fazem parte do seu cardápio, bem como o breakbeat, o dub e o tecno. Há quem o considere um guru. Já passou por cá, mas não consta que lhe tivessem construído um altar.
            Kid Loco é outro DJ de nomeada. Francês, de seu verdadeiro nome Jean-Yves Prieur, depois de uma fase mais dura, optou pelas aragens do easy listening, os tricôs do trip hop e os soluços do downtempo. A preparação pode ser feita com a audição dos discos “Kid Loco Presents Jesus Life for Children under 12 Inches” (boa piada, ó franciú!), “A Grand Love Story” e “DJ Kicks”. Senta-se ao gira-discos também no Lux, a 18 de Janeiro.
            LTJ Bukem, vulgo Danny Williamson, ideólogo do drum ‘n’ bass, apresenta as suas teorias – condensadas no álbum “Journey Inwards” – a 3 de Fevereiro no Teatro Sá da Bandeira, no Porto. Danças com cabeça, um pé no jazz e outro na soul.
            Ainda em Janeiro, a 12, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, atuam os Magnetic Fields. Banda de pop construída aos bocadinhos. Stephen Merritt é quem cola as peças de eletrónica kitsch que restam do desmantelamento dos Kraftwerk, farrapos sinfónicos e recordações dos Beach Boys, dos Abba e do som Motown. O resultado tem a consistência do plástico mas segue-se como uma telenovela.
            Uma pausa para espreitar os Gene Loves Jezebel. Não estão à vista. Podemos avançar.
            Rickie Lee Jones, grande dama da canção contemporânea (apesar de cantar como se estivesse constipada), atua pela primeira vez em Portugal no último dia de Janeiro, na Aula Magna. Grande talento, em curso para o desconhecido, do cabaré jazzy de “Pop Pop” para o teatro de sombras do inexpugnável “Ghostyhead”. A não perder.
            Joe Jackson, também conhecido pelo “Tintin da pop”, atua na mesma sala a 9 de Fevereiro. Ele não achará grande piada que o associem à personagem de Hergé, já que do punk destemido que passou pelo Pavilhão do Belenenses em plena febre da “new wave” resta nada. Hoje Joe Jackson é um compositor de sinfonias sobre as urbes modernas. Como Nova Iorque, que revisitou recentemente gravando uma sequela do clássico “Night and Day”.
            Para grandes criaturas como os dinossauros, grandes salas. Como o Pavilhão Atlântico, em Lisboa, que a 20 de Fevereiro receberá Eric Clapton, sinónimo de guitarra elétrica na sua dimensão mais virtuosística. O “crème de la crème” que temperou o psicadelismo dos Cream antes de se empaturrar com molho de heroína, entrar para uma clínica de reabilitação e, finalmente, afinar a guitarra por Deus.
            A 26 e 27 de Fevereiro, respetivamente nos Coliseus de Lisboa e Porto, chegam, vindos da Califórnia, os Deftones. Os metaleiros vão adorar. Pertencem à mesma família dos Jane’s Addiction, Körn, Limp Bizkit, Slipknot e Faith No More e gravaram este ano um álbum, “White Pony”, que faz disparar os níveis de adrenalina. Se, mesmo assim, for insuficiente para o tirar da apatia, o remédio será dirigir-se, no dia 12 de Fevereiro, com passo firme, ao Pavilhão Atlântico, onde, aí sim, poderá estoirar à vontade os tímpanos com os Offspring.

Placebo glam

            Março vai ser mês de “americana”, género aglutinador de todos os ícones musicais da América do Norte das últimas quatro décadas: country, swing, mariachi, rock & rol, jazz, soul… Os Byrds levaram-no ao top nos anos 60, os REM ajudaram-no a atravessar os 80 e cavalgou nos 90 sobre a sela dos Giant Sand e dos Calexico, banda de cowboys que montará o “rodeo” a 4 de Março, no Paradise Garage, em Lisboa e, no dia seguinte, no Hard Club, em Vila Nova de Gaia. Até lá escute-se o álbum “Hot Rail” e grite-se “Aiô Silver!”.
            Polly Jean Harvey, a querida e “maldita” P. J., regressa a Portugal, desta feita para cantar no Coliseu de Lisboa a 14 de Março. Ao contrário do “cool” e do distanciamento de Rickie Lee Jones, P. J. Harvey tem um conceito diferente do amor: mortífero e mortal. Ela mesmo perguntou num dos seus álbuns: “Is This Desire?”. O novo chama-se “Stories from the City, Stories from the Sea”.
            Entre os gordos raivosos do rock, Frank Black, ex-Pixies e ovnilogista convicto, apenas terá como rival David Thomas, dos Pere Ubu. Black também já andou por cá a espumar pelos festivais. Poderá fazê-lo de novo na Aula Magna, em Lisboa, a 17 de Março, por sinal o mesmo local que Thomas “conspurcou” com a sua esquizofrenia iluminada. Black virá acompanhado pela sua banda The Catholics mas suspeita-se que a Igreja não irá dar a sua bênção. Vale a pena conhecer os álbuns “Frank Black” e “Teenager of the Year”.
            Glam, modelo anos 90, igual a Placebo. Entraram em “Velvet Goldmine”, de Todd Haynes, adoram Marc Bolan, Lou Reed e Iggy Pop. E Bowie, claro, que lhes abriu as portas do sucesso ao convidá-los para tocar ao vivo o single “Nancy boy”, na festa do seu 50º aniversário. Este ano os Placebo editaram um novo álbum, “Black Market Music”, e parece que estão a ficar machões.
            Os concertos dos Deftones, Calexico, P. J. Harvey, Frank Black e Placebo fazem parte da programação do festival Super Bock Super Rock que poderá ainda contar com a cantora Goldfrapp. Resta esperar pelas festas da Queima das Fitas para dar de novo as boas-vindas aos Gene Loves Jezebel.

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