24/12/2014

Verdazul klezmer Timbila zulu [11º Festival Cantigas do Maio]



MÚSICAS

ÚLTIMO FIM DE SEMANA DO CANTIGAS DO MAIO

VERDAZUL KLEZMER TIMBILA ZULU

FOLK ADORNADO POR ELETRÓNICAS DA GASCONHA, UM FURACÃO KLEZMER, POLIFONIAS ZULU E UMA ORQUESTRA DE TIMBILAS FECHAM O CANTIGAS DO MAIO.

TERMINA ESTE fim-de-semana a 11ª edição do Cantigas do Maio do Seixal. Verd e Blu, da Gasconha, Kroke, da Polónia, hoje, e Colenso, da África do Sul, e a Orquestra de Timbilas Venâncio M’Bande, de Moçambique, amanhã, fecham a programação principal, com concertos na Fábrica Mundet. Na tenda de convívio atua ainda, hoje e amanhã, depois dos espetáculos, o grupo Folia, da Galiza. A música da Europa volta a estar em destaque num festival que já assistiu à consagração da cantora catalã Rosa Zaragoza e da Bagad Kemper, da Bretanha.
            Com os Verd e Blu, da Gasconha, território situado na grande extensão outrora designada por Occitânia, separada da Espanha pelos Pirinéus, o verde e o azul célticos encontram o sol e as polifonias do Mediterrâneo. Descobertos pelo consumidor de música folk português em 91 através do álbum “Musica de Gasconha”, os Verd e Blu posicionaram-se ao lado de outro dos grandes grupos oriundos da mesma região, os Perlinpinpin Folc. Ao segundo álbum, porém, “Musicas a Dançar” (1993), deram a entender que a sua música se enquadrava num campo de manobras mais vasto. Em termos rítmicos o grupo assumiu por inteiro as programações eletrónicas, sem que isso implicasse uma desvalorização dos materiais de base tradicionais.
            Joan-Francés Tisnèr é o mentor dos Verd e Blu e executante de acordeão diatónico, flauta, gaita-de-foles e tamboril de cordas, para quem a tradição não é um fim em si mesmo mas um ponto de partida e cujo objetivo passa, segundo diz, por “revisitar a música, a dança e a língua da Gasconha, mas dentro do espírito de um puzzle em que apenas algumas peças são dispersas, e ser fiel a um corpo tangível, vivendo-o para conseguir dessa forma uma música inovadora”. A música dos Verd e Blu é, de facto, inovadora, e bastante mais interessante que esta declaração do seu líder.
            Quem vive do palco e sobre ele atua como se o mundo acabasse no dia seguinte são os Kroke (“Cracóvia”, em yddish) um trio polaco especializado na música klezmer, a música tradicional judaica instrumental da Europa do Leste. São três, têm formação clássica e conhecimentos de jazz, e já tocaram com Ravi Shankar, Bustan Abraham, Klezmatics e Van Morrison. O primeiro concerto que deram fora da Polónia realizou-se em Jerusalém, em 93, num Encontro de Sobreviventes do Holocausto promovido por Steve Spielberg que ficara impressionado quando os viu atuar num auditório de Cracóvia, na altura das filmagens de “A Lista de Schindler”. Uma boa ideia do que poderá acontecer esta noite na Fábrica Mundet pode ser obtida através da audição do álbum ao vivo, “Live at the Pit”, gravado há dois anos. O novo, editado o ano passado, chama-se “The Sounds of the Vanishing World”.
            Amanhã, a noite começa com as polifonias zulu dos Colenso Abafana Benkokhelo, nome de uma formação vocal constituída em 1983 por Victor Mkhisé que reuniu 10 mineiros zulus, da etnia Nguni, provenientes da zona de Colenso. Cantam nos três principais estilos vocais zulu, Mbube, Ischthamiya e Ondlamu, dançam e vestem trajes tradicionais, exprimindo os rituais quotidianos do seu povo nos moldes ancestrais: o nascimento, a morte, a caça, a sementeira, a colheita e o combate.
            A Fábrica Mundet fecha as portas com a Orquestra de Timbilas de Venâncio M’Bande, formação moçambicana de timbilas, instrumento de percussão da família dos xilofones tocado pela etnia Chopi em Zavala, no distrito de Inhambane, a Sul de Moçambique.
            Venâncio M’Bande, de 67 anos, 38 a liderar diversas orquestras de timbilas – que ele constrói e que tradicionalmente acompanham as cerimónias designadas m’saho, nas quais populações de várias aldeias se juntam para confraternizar, cantar e dançar – é o líder da atual formação, composta por jovens a quem Venâncio ensinou desde crianças a arte de execução deste instrumento.

VERD E BLU, KROKE

Seixal, Fábrica Mundet, hoje, 22h

COLENSO, ORQUESTRA DE TIMBILAS VENÂNCIO M’BANDE

Seixal, Fábrica Mundet, amanhã, 22h





ARTES | sexta-feira, 2 junho 2000

Sem comentários: