17/12/2014

Yesss! [Yes]



MÚSICAS

LENDA DA MÚSICA PROGRESSIVA ATUA NO PORTO E EM LISBOA

YESSS!

OS YES, UM DOS EMBLEMAS DA MÚSICA PROGRESSIVA DOS ANOS 70, ATUAM PELA PRIMEIRA VEZ EM PORTUGAL. O PÚBLICO FALOU COM O VOCALISTA DO GRUPO, JON ANDERSON, O OTIMISTA POR EXCELÊNCIA. PRESTES A ATINGIR-SE O NOVO MILÉNIO OS YES VOLTAM A ESTAR “CLOSE TO THE EDGE”.

PARA JON Anderson o mundo é um local aprazível. Desde sempre líder espiritual dos Yes, o cantor afirma com otimismo que “é importante fazer da vida uma aventura”. A aventura dos Yes ainda não terminou.
            PÚBLICO – “The Ladder” é um bom álbum para os conhecedores dos Yes. E para as gerações mais novas que nunca ouviram falar do grupo?
            Jon Anderson – Estão sempre a aparecer novas pessoas a ouvir a nossa música. As que gostam dos nossos discos dos anos 70 apercebem-se que “The Ladder” segue o mesmo estilo. É um álbum clássico.
            P. – Esses que gostavam dos Yes dos anos 70 sentiram-se chocados com a entrada para o grupo, na década seguinte, dos dois elementos dos Buggles. Não foi uma mudança contra-natura?
            R. – Foi mais uma estratégia comercial do que outra coisa, quando a editora percebeu que tinha em mãos um “hit” potencial, com o álbum “90125”. Eu queria fazer uma coisa diferente mas o resto do grupo rendeu-se às pressões da editora para a qual o importante era repetir o êxito do single “Owner of a lonely heart”. A indústria quer o artista perfeito! Acabei por compensar a insatisfação com a gravação de “Anderson, Bruford, Wakeman and Howe” e com as colaborações com Vangelis.
            P. – Nos dois volumes de “Keys to Ascension” e em “The Ladder” chamaram outra vez Roger Dean para fazer as capas. Era mesmo necessário?
            R. – Foi um “feeling”. Há cinco anos o Roger andava a trabalhar em “computer art”, técnicas pelas quais eu sempre me interessei. No caso dele as habituais cenas voadoras, as paisagens, funcionam muito bem desta forma. Em relação a “The Ladder” quis um conceito alargado que funcionasse também em vídeo. Mas, uma vez mais, a editora não tinha a mesma opinião… Optei então por um jogo de computador com base no tema “Homeworld - the ladder”. Está a ser um êxito.
            P. – O tema dessa faixa – uma antiga civilização em demanda de um lar – é muito semelhante ao do seu primeiro álbum a solo, “Olias of the Sunhillow”, de 1976. Estava a pensar nele quando idealizou o argumento?
            R. – É um jogo muito “state of the art”, numa linha de ficção-científica que vai, de facto, na sequência de “Olias the Sunhillow”. Aliás, estou a pensar gravar a segunda parte desse álbum. E talvez até uma terceira. Uma trilogia que provavelmente acabarei quando tiver 80 anos (risos).
            P. – É verdade que o título do álbum se inspirou numa exposição de arte onde John Lennon e Yoko Ono estavam presentes?
            R. – É apenas uma das histórias. Alan White, o nosso baterista, tocou com Lennon na época de “Imagine”. Conta-se que nessa exposição John Lennon subiu umas escadas para espreitar por uma lente apontada a um ponto minúsculo. Sobre o ponto podia ler-se “Yes”. Eu diria que “a escada” é a escada que conduz ao sucesso, na música como na vida. Estamos sempre a subir escadas na tentativa de nos tornarmos pessoas melhores.
            P. – Foi sempre o místico, o ecologista dos Yes. Os outros músicos partilhavam os seus ideais?
            R. – Mais ou menos… Estivemos muito próximos durante um certo período mas depois, como acontece em todos os grupos, cansámo-nos uns dos outros. Separámo-nos e voltámos a juntar-nos umas quatro vezes! Não é natural quando se passa mais tempo com os músicos do que com os nossos filhos, com a família. Toca-se na estrada, grava-se um disco, regressa-se à estrada. As pessoas dizem que é um modo de vida fantástico. Não é. Fazemo-lo porque queremos mostrar o nosso trabalho às pessoas. Em termos financeiros até compensa mas em termos artísticos fica-se completamente vazio.
            P. – Fiz-lhe a pergunta porque em “Relayer” só conseguiu cantar quase no fim do primeiro lado do disco, em “The gates of delerium”…
            R. – Mas esse tema foi inteiramente composto por mim! É um libelo contra a guerra. Detesto a guerra, é uma coisa estúpida. Mas a luz brilhará em breve… Um equilíbrio entre o Yin e o Yang. “The gates of delerium” joga com estas energias, um combate entre forças opostas.
            P. – Por falar em forças opostas, o que é que sentiu quando trabalhou com Robert Fripp, num álbum dos King Crimson, “Lizard”? Fripp é um homem bastante interessado pelas energias mais escuras e negativas…
            R. – Talvez seja necessária a presença tanto da luz como da escuridão para haver realidade. Os Yes foram sempre uma força positiva. Quem nos vir tocar ao vivo perceberá que continuamos a dizer e a ser “Yes”. Não jogamos jogos. Não tive qualquer tipo de relação com Robert Fripp, cantei e ponto. Três anos mais tarde toquei com eles tamborim, muito mal, diga-se de passagem… Depois disso ele tornou-se uma pessoa com quem é muito difícil falar.
            P. – Na sua obra a solo aproximou-se da música sul-americana, em “Deseo”, e da música céltica, em “The Promise Ring”. O que significaram estas duas incursões na “world music”?
            R. – Procuro passar pelo maior número possível de experiências musicais, não ficar preso a um determinado estilo. Cantei música irlandesa, sul-americana e até em português – não muito bem (risos) – em “Deseo”. Procuro tocar em diferentes pessoas e povos. É importante fazer da vida uma aventura. E estar apaixonado pela minha mulher, Jane.
            P. – A sua mulher que parece ter desempenhado um papel importante noutro dos seus álbuns a solo, “Earthmotherearth”. Nota-se esse estado de paixão…
            R. – Casámo-nos numa ilha do Pacífico, vivíamos junto ao oceano, a milhares de quilómetros longe de tudo. A única coisa que tinha comigo era um computador e foi com ele que fiz o álbum. Gravei os sons do jardim, o som dos pássaros…
            P. – Os Yes voltarão alguma vez a gravar longos temas de 20 minutos como fizeram em “Tales from Topographic Oceans”?
            R. – Absolutamente! O próximo álbum será um longo “opus” com uma hora de duração.
            P. – Prestes a atingir-se um novo milénio, os Yes estão, como estiveram há 30 anos atrás, “close to the edge” (título de um dos álbuns mais conhecidos do grupo)?
            R. – “Close to the edge”, à beira da realização. “Close to the edge”, à beira da compreensão. É tudo o que tentamos fazer.

YES
PORTO Coliseu, dia 23, 4ª, às 21h30.
Bilhetes entre 3500$00 e 5500$00
LISBOA Pavilhão Atlântico, dia 24, 5ª, às 21h30.
Bilhetes entre 4000$00 e 5000$00


ARTES | sexta-feira, 18 fevereiro 2000

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