BLITZ
20.2.90
ESCAPARATE
AFTER
DINNER
«PARADISE OF REPLICA»
Requinte. Delicadeza.
Minúcia. Típicos requisitos da Alma japonesa presentes na música dos After
Dinner mas que não chegam para completamente a caracterizar.
Depois de um primeiro álbum
editado pela Recommended regressam muito depois do jantar com novo disco, desde
já um clássico na minha imodesta opinião.
O som After Dinner é tecido
em filigrana, em padrões milimétricos e nunca repetidos. Tudo fervilha e
constantemente muda, segundo a segundo, num picotado de luz, traçando o desenho
de uma catedral. Nunca, como aqui, a electricidade, os instrumentos
tradicionais nipónicos e os da música de câmara europeia se tinham casado e
dançado num acto de puro amor.
No centro irradia a voz de
boneca de cristal de Haco, menina pintada em máscara Madame Butterfly. Em
volta, como pirilampos encantados, gritam cintilantes as harpas, os oboés, as
flautas, os nomes impronunciáveis e os sintetizadores como se fossem tocados
por fadas. E talvez sejam.
Na complexidade e
imaginação dos arranjos lembram por vezes os Gentle Giant da fase inicial. Nos
ambientes que sugerem aproxima-se dos jardins em que Virginia Astley se
passeia, se chovesse, se fugazes relâmpagos fixassem pequenos medos na
paisagem.
«Paradise of Replica» é uma
sucessão infinita de imagens, ecos, espelhos, micro-sinfonias, sinos
reverberados, caixas de música, vozes infantis, fantasmas, sonhos dentro de
sonhos. Pingos de sangue tombando no silêncio de lagos circulares. Nuvens e
vento. Paraíso de réplicas ou réplicas do Paraíso?
Saboreia-se este disco como
se fosse um gelado doce para o espírito. Subtil Obra-Prima. Beleza absoluta em
mil segredos sussurrada.
Rec Rec, Framport.
Contraverso, 1984.
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