31/10/2008

Hector Zazou

LP

23 DE FEVEREIRO DE 1989
EXPRESSO

Hector Zazou

Mais um excêntrico genial para acrescentar à lista. Desta vez vindo de França, o que é pouco usual. Hector Zazou de seu nome, o homem das orelhas descomunais (vide a foto junta ou a capa de «Reivax au Bongo»…), detentor, pois, de um excepcional ouvido para a música. Façamos, então, um breve resumo do percurso musical da orelha, perdão, do homem em causa. Logo nos primórdios, a assinatura de uma obra-prima, o clássico Barricades 3, gravado conjuntamente com outro francês bizarro, Joseph Racaille, sob a designação de ZNR. Joseph Racaille é um apaixonado pela música de Erik Satie, o que até seria bastante normal se fosse um pianista. Mas não é. É um soprador de cornetas, nomeadamente os saxofones e o clarinete. Por seu lado, o nosso génio Zazou é um ferrenho e tecnicamente perfeito manipulador da electrónica. Ambos partilham o gosto pelos arranjos mais que inusitados e um «approach» em relação aos respectivos instrumentos, perfeitamente desconcertante. Ao escutar este disco, não há barricada que nos valha, neste ataque em força da música mais estranha e exótica que se possa imaginar.

Os ZNR gravaram ainda, em álbum, um Traité de Mecanique Populaire. Nunca ouvi, mas pelo título deve ser mesmo um tratado. A partir daqui cada um seguiu o seu caminho. Deixemos Racaille para depois e acompanhemos o nosso amigo Heitor. «La Perversita» (que título!) é o outro álbum que desconheço de ouvido. Foi o primeiro que gravou a solo. Depois, mais três obras-primas de enfiada: «Noir et Blanc», o primeiro disco gravado em colaboração com o vocalista africano Bony Bikaye, contando, ainda, com a participação do grupo de música electrónica CY1. Síntese magistral deste último tipo de música com as sonoridades africanas. Deste disco foi retirada uma faixa com posterior edição em maxi, produzida por Adrian Sherwood. Depois foram dois álbuns gravados para a série de prestígio Made to Measure, o já citado «Reivax au Bongo» e «Géographies». O primeiro conta novamente com a activa colaboração de Bony Bikaye, em todo o lado A. Desta vez, a coisa soa como uma espécie de psicadelismo electrónico africano (ufa!). Só escutando se acredita. O outro lado é uma sequência de cânticos sintetizados; a voz feminina, puríssima, sobre ou misturada com uma electrónica grandiosa, à Klaus Schulze, se este tivesse conseguido dar o salto para uma estética dos anos 80, digo, 90! O outro álbum gravado para a Made to Measure, «Géographies» é o mais difícil e complexo de toda a discografia do músico. Soa aos clássicos eruditos (!). Música de câmara da selva amazónica? Paris, Europa ou outra galáxia qualquer? Indubitavelmente um dos discos mais controversos e originais da década.

Hector Zazou gravou, ainda, o mini «Mr. Manager», novamente de parceria com o seu amigo Bikaye; um exercício de Funky, género que não aprecio particularmente, mas do qual reconheço ser este um exemplo brilhante. Finalmente, o recentíssimo e mais acessível «Guilty», álbum em que Zazou e Bikaye se divertem e nos divertem, pondo-nos a dançar das mais variadas maneiras. Com «Guilty» Zazou veio dar ao mesmo lugar onde, por outras vias, vieram, também, desembocar os suíços Yello.

Resta, por último, acrescentar que toda a discografia mais recente deste músico tem sido regularmente importada pela discoteca Contraverso (passe a publicidade), isto para os interessados, é claro. E pronto, foi uma breve história de Hector Zazou, o homem cujo talento consegue ainda ser maior do que as orelhas.

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