25 SETEMBRO 1991
LP’S
DE CAVALO PARA BURRO
THE GOLDEN PALOMINOS
Drunk With Passion
LP/MC/CD, Venture, distri. Edisom
Para todos aqueles que desde a primeira hora saudaram com entusiasmo a aventura da estreia discográfica dos Golden Palominos, a sucessão de álbuns seguintes tem constituído um rosário de sucessivas desilusões e expectativas frustradas. Começou por ser uma ideia e um projecto consistentes, apoiados numa linhagem de nomes ofuscante ligados à cena “downtown” nova-iorquina que, na prática, se traduziam numa série de “fusões” e mestiçagens empolgantes (que podiam ir da folk traficada ao rock e ao “free funk”), mas cedo se assistiu a uma mudança de agulhas. Bill Laswell, Anton Fier e Nicky Skopelitis, núcleo orientados e fundados dos Palominos (uma raça especial de cavalos), optaram por uma maior viabilidade comercial, saldada em cedências consecutivas ao “mainstream” e no esvaziamento progressivo da atitude original.
De comum entre o primeiro álbum e este “Drunk with Passion”, só a presença constante de convidados acima de qualquer suspeita, de maneira a, pelo menos, garantir a qualidade das interpretações.
A diferença reside em que Arto Lindsay, David Moss, Fred Frith, John Zorn e Michael Beihorn, todos presentes no arranque do projecto, garantiam uma disponibilidade criativa e uma aura de excitante experimentalismo que os seus sucessores não conseguiram jamais igualar. Recorde-se que pelos Palominos passaram, entre outros, Peter Blegvad, Syd Strow, Jack Bruce e John Lydon, escolhidos a dedo, mas limitados pelo estilo de composição, cada vez mais acessível e dirigido ao gosto das maiorias.
No novo álbum, participantes como o “pau para toda a obra” Richard Thompson, Michael Stipe (vocalista carismático dos R. E. M.) ou Carla Bley não são suficientes para salvar um disco demasiado aprisionado nas suas próprias armadilhas. A aposta (certa ou errada, consoante os objectivos pretendidos) incidiu desta feita na voz de Amanda Kramer, de timbre e técnica irrepreensíveis, mas totalmente falha de originalidade. Por vezes próxima do tom falsamente ingénuo de Alison Stratton, quase sempre perdida numa solenidade mil vezes retomada, desde que os This Mortal Coil decidiram que a pop tinha lugar nas catedrais, Amanda pouco mais faz que, à força das mesmas inflexões, aborrecer o ouvinte ao ponto de o irritar seriamente.
Aborrecimento que atinge o auge em “A sigh”, insuportável nas despropositadas ressonâncias de uma “new age” de refugo. Resta ao tal apreciador dos primórdios, refugiar-se nas prestações guitarrísticas de Thompson ou nos inesperados lampejos de tema final, “Begin to return”, evocativo das melhores bizarrias de Peter Blegvad que, de resto, já tivera a sua passagem meteórica pelos Palominos.
Fier, Laswell e Skopelitis deviam escutar atentamente os dois discos até agora gravados por Jon French, Fred Frith, Henry Kaiser e Richard Thompson (“French, Frith, Kaiser & Thompson” e “Invisible Means”), para aprenderem que acessibilidade não é sinónimo de mediocridade e que, aos imperativos comerciais, deverá sobrepor-se outro tipo de motivações. Mais que não seja, o simples prazer de tocar, de todo ausente em “Drunk with Passion”, idealizado e concretizado em laboratório. Bebedeiras como esta, sem réstia de paixão, são de evitar. **
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