10 ABRIL 1991
VÍDEOS
EURYTHMICS
Greatest hits
RCA, distri. BMG, 1h35m
Fazendo parte de um pacote que inclui ainda o álbum, a cassete e o CD, estes “Greatest Hits” não escondem que pretendem em primeiro lugar facturar e depois, se possível, facturar um pouco mais. De facto os “hits” estão cá todos e os clips que ajudaram a criar a imagem de Annie Lennox servem-se a frio.
Registados entre 1982 e 1991, aqui se alinham os sonhos que fizeram gemer muitas mulheres em busca de uma feminilidade liberta e ao mesmo tempo confundidas pela androginia assumida do seu arauto. Os sonhos “are made of this”, de ambiguidade e perucas que não deixam descobrir a careca – avisa logo de início a loura de cabelos curtos e olhos da cor do mar, antes de se atirar a hora e meia de trocas e baldrocas.
Ao longo dos 21 clips que constituem o “long form”, Annie Lennox é dona de casa, provocadora, anjo, diabo, “starlette”, Marilyn, espírito desencarnado, feminista, homem, mulher ou o que fica no meio. Tudo ao mesmo tempo, em “The king and queen of America”. As canções que foram êxito estão cá todas: “Love is a stranger”, “Sex crime”, “There must be an angel”, “Sisters are doin’ it by themselves”, “When tomorrow comes” e por aí fora, num nunca mais acabar de máscaras que sucessivamente se vão vestindo e despindo para melhor trocar as voltas às libidos a quem não é dado um segundo de descanso. Se num momento Annie deixa cair a alça do vestido e mostra o “soutien”, no outro só lhe falta o bigode para parecer rapaz, não fora o brilho inconfundível do olhar e o resto, às vezes difícil de esconder.
Típicos de intenções afinal nunca ocultadas, o dueto sem disfarces mantido com Aretha Franklin, no manifesto das vitórias de classe que é “Sisters…” ou o “mudar de vida” da doméstica frustrada que gosta de ouvir Beethoven, revelam uma personalidade fascinante capaz de juntar a atitude interventiva à acessibilidade das propostas musicais. Neste aspecto, agradeça-se ao homem da casa – Dave Stewart –, artífice ofuscado pelo brilho da cantora, sem o qual, porém, os amanhãs jamais ousariam cantar. ***
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