LP
2
DE FEVEREIRO DE 1989
SKELETON CREW
THE COUNTRY OF BLINDS
Recommended, imp. contraverso
Fred Frith está em todas.
Presente em quase tudo o que de mais importante e original se vai fazendo em
música por este mundo fora. Seria fastidioso enumerar todos os discos e
projectos de que Frith fez, de algum modo, parte. Citemos apenas alguns dos mais
importantes: Henry Cow, Art Bears, Massacre, Etron Fou Leloubaln, duos com
Chris Cutler ou Henry Kaiser, colaborações com Robert Wyatt, Brian Eno, um
nunca mais acabar de ramificações por variadíssimos ramos da música actual. Uma
coisa é certa: por onde passa deixa bem vincada a sua marca, seja como
compositor, produtor ou simples intérprete. E claro que a par de toda esta
actividade com outros músicos, Fred Frith conta já com uma impressionante
discografia a solo, donde se destacam obras-primas como os álbuns «Gravity»,
«Speechless» ou o recente duplo «The Technology of Tears».
Os Skeleton Crew são um dos
seus mais recentes projectos colectivos. Têm no activo dois álbuns: para além
deste, a estreia com «Learn to Talk». Constituem o grupo, mestre Frith que toca
neste disco guitarra, baixo, violino e bateria, para além de cantar, mais dois
outros excepcionais músicos: Tom Cora, o Jimi Hendrix do violoncelo
electrificado e Zeena Parkins na harpa, também electrificada. Cada um destes
dois toca ainda mais alguns instrumentos, enfim, são só três mas parecem muito
mais.
«The Country of Blinds» é
mais radical que o seu antecessor «Learn to Talk», tanto ao nível dos textos
como ao da música. Aqueles podem ser classificados como de intervencionistas,
politicamente empenhados, no sentido mais nobre do termo. Denunciam, de um modo
não panfletário, os pobres do poder nas sociedades pró-totalitárias em que
vivemos. As nossas fraquezas também não são poupadas. «The Country of Blinds»,
«Man or Monkey», «Dead Sheep» e sobretudo «The Hand That Bites» são alguns
títulos de faixas deveras elucidativos. Musicalmente os Skeleton Crew retêm do
jazz e do rock o melhor de cada um. Do primeiro, a riqueza rítmica e a
capacidade de improvisação; do segundo, uma energia enorme. Predominam as
cordas, claro. É preciso não esquecer o facto de Fred Frith ser um dos mais
geniais guitarristas da actualidade. Este disco demonstra-o à saciedade. Também
Tom Cora e Zeena Parkins não deixam os seus créditos por mãos alheias, nos
respectivos instrumentos principais, o violoncelo e a harpa. Há também canções,
espalhadas ao longo deste álbum. Canções estranhas, amarguradas, com as vozes a
gemerem ou a gritarem, por vezes à beira da histeria. Sons e palavras que nos
arranham a consciência e nos arrancam do conforto e preguiça com que tantas vezes
contemporizamos, ao escutar discos que nos pedem muito mais. Habituámo-nos a
encarar a audição de um disco como algo de passivo. Está mal. É necessário
educar os ouvidos e o gosto, espicaçar a sensibilidade, arriscar novas
experiências e sons desconhecidos. É preciso procurar a originalidade e a
qualidade onde elas verdadeiramente estão. A inovação transcende sempre o
tempo, quanto mais as modas!...
A música do país dos cegos
acorda os sentidos e sacode a inteligência. Confunde e espanta. Atrai e
repudia. Brinca connosco a sério. Muitos detestarão este disco, outros
encontrarão nele o estímulo para o experimentar de novos percursos e novas
músicas, menos populares, é certo, mas de certeza mais ricas e compensadoras.
Abram os olhos, apurem o
ouvido! Em terra de cegos…
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