5 FEVEREIRO 1992
PHEW
Phew
CD, Les Disques de L’Acier et su Soleil, import. Ananana
Não se pode fugir à evidência: algumas das correntes mais significativas da música actual, em particular aquelas que não dispensam o uso maciço da tecnologia electrónica, têm as suas raízes na Alemanha. É o caso das chamadas “músicas de fusão”.
“Phew” reedita, em CD, o colectivo de ocasião formado, em 1981, por Holger Czukay, Jaki Liebezeit, ambos dos Can, Conny Plank, músico, engenheiro de som e impulsionador de dois selos importantes da década de 70, na área do “cosmic rock” – a Brain e a Sky –, e a cantora japonesa Phew.
O disco encontra, à época, paralelo em “Zero Set”, de Plank, Dieter Moebius, dos Cluster, e Mani Neumeier (percussionista dos Guru Guru) e um vocalista sudanês. Em ambos os casos trata-se da junção e sobreposição de vozes “exóticas” ou “étnicas” com o acompanhamento electrónico, nomeadamente das percussões.
Curioso é verificar como então, às sínteses actuais permitidas pela utilização do “sampler” e pela crescente sofisticação do estúdio, se contrapunha uma estratégia de colagem que, por oposição, valorizava o contraste e a diferença. Estratégia que, de resto, já era notória em toda a discografia prévia dos Can, de “Tago Mago”, “Ege Bamyasi” e “Future Days” ou, em particular, nas suas “Ethnological Forgery series”, sem esquecer as aventuras solitárias de Holger Czukay em “Cannaxis” (colagens com gravações de vozes da Coreia, entre outras) e “Movies” (com registos de cantores persas).
Se “Movies” passa por antepassado legítimo de “My Life in the Bush of Ghosts”, de Brian Eno/David Byrne, “Phew” antecipa, de igual modo, obras como “Noir et Blanc”, de Hector Zazou/Boni Bikaye e “The Rhythmatist”, de Stewart Copeland/Ray Lema. Encontros infinitos entre as rítmicas circulares e vocalizações ancoradas no tribalismo, tradicional ou simulado, e a sua potenciação pela electrónica. O transe e a razão. Melhor dizendo: o transe da razão. (7)
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