20 NOVEMBRO 1991
CONVERSA FIADA
TALK TALK
Laughing Stock
LP/CD, Verve, ed. Polygram
Eles esforçam-se, mas não conseguem. Os Talk Talk dão tudo por tudo para ganhar a credibilidade de “banda adulta” que deixou para trás as preocupações comerciais. Na época das preocupações comerciais, a banda de Mark Hollis assinou êxitos razoáveis, como “Talk Talk” e “It’s A Shame”. Já nessa altura os Talk Talk provocavam vómitos e desejos inconfessáveis de destruição vinílica. Por exemplo: a voz. Uma voz capaz de levar qualquer cidadão de bem ao desespero e à camisa de forças. Uma monstruosidade tímbrica que procura com toda a força do desespero e da impotência soar como a de Bryan Ferry.
Tudo isto seria subjectivo e de pouca importância, não fora o descabido pretensiosismo do senhor, levado em “Laughing Stock” ao limite da insuportabilidade.
A noção que os Talk Talk têm de parecer (diferente de ser…) “vanguardistas” é aumentar o tempo de duração das faixas, pôr os instrumentos cada um a tocar para seu lado (o que noutros até pode ser uma virtude…) e criar um ambiente de desolação e melancolia, de maneira a granjear ao vocalista a auréola de “coitado, mais uma vítima da engrenagem rock” ou “génio incompreendido com a cabeça a abarrotar de melodias inspiradas, embora um bocado estranhas”.
De facto, as melodias são estranhas, tão estranhas, de tal forma subtis que nem chegamos a dar por elas.
A audição de “Laughing Stock” pode constituir, contudo, um saudável exercício de autocontrolo. É um disco oriental, na medida em que apela com toda a força para a nossa paciência. A cada faixa esperamos que a introdução instrumental dissonante acabe, para dar lugar à canção. E assim por diante, sempre à espera, sempre acreditando. O disco chega ao fim e continua-se à espera, agora já num estado próximo do estupor. Talvez faltasse a concentração. Cheios de boa vontade recomeçamos. Agora, com a repetição, a audição torna-se penosa, na busca desesperada de um pormenor que tivesse passado despercebido, merecedor de um elogio. Por fim, conclui-se de que não chega a haver um único pormenor que justificasse sequer a gravação do disco.
Mark Hollis arrasta-se (é o termo exacto) nas vocalizações à espera do arranjo salvador que nunca acontece. As guitarras e o órgão são anémicos. Procuram abrigo numa pseudo-serenidade classicista, na pose distante de “artistas” que tentam “dar dignidade” à pop. Não faltam então os naipes de cordas (há coisa mais digna em música do que um naipe de cordas?), uma trompete (há coisa mais digna que uma trompete?) e um clarinete contrabaixo (contrabaixo! Há coisa mais digna que um clarinete contrabaixo?).
“Laughing Stock” mostra os Talk Talk perdidos num beco sem saída. Seguem por uma estrada que não vai dar a lado nenhum. O que até não seria tão grave se demonstrassem uma pontinha de humor ou, no mínimo, de bom-gosto. Duas coisas que nunca foram o seu forte. Mas nós temos de aturar as suas manias. Nunca será de mais repeti-lo: “E não se pode exterminá-los?” (3)
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