TERÇA-FEIRA,
31 OUTUBRO 2000
“Ar
de Rock” com novos artistas
Chico
Fininho, uh-uh!
20 ANOS depois, é duvidoso que
Chico Fininho continue a passear-se pela Cantareira “com a merda na algibeira”,
como dizia a canção. Não porque os hábitos de consumo de droga tenham mudado
assim tanto nas últimas décadas, mas porque foi graças a esta canção, e ao
álbum de onde for retirada, “Ar de Rock”, que mudaram em Portugal os hábitos de
consumo da música popular feita por portugueses. O disco, editado em Julho de
1980, faz agora 20 anos. Motivo para festejos.
Uma
festa de aniversário não é festa, não é nada, sem um concerto de
confraternização. E assim, Rui Veloso, ou alguém por ele, convidou para tocar
ao vivo a seu lado os Xutos e Pontapés, Clã, Lúcia Moniz e Sara Tavares, no
Pavilhão Atlântico, em Lisboa, com a Ala dos Namorados em substituição dos Clã,
no Coliseu do Porto. Engraçada e alusiva será a abertura de ambos os
espetáculos na qual Rui Veloso irá estar acompanhado pela Banda Sonora, com a
formação original de “Ar de Rock”, composta por Zé Nabo, no baixo e Ramon
Galarza, na bateria.
A
efeméride é ainda assinalada com a edição de um “Ar de Rock - 20 Anos Depois”
que recupera o alinhamento original, constituído por clássicos como “A
rapariguinha do shopping”, “Sei de uma camponesa” e, claro, “Chico fininho”.
Interpretado pela Ala dos Namorados, Clã, Jorge Palma & Flak, Xutos e
Pontapés, Da Weasel, Sara Tavares, Mão Morta, Danças Ocultas e Belle Chase
Hotel, mais os brasileiros Paralamas do Sucesso e Barão Vermelho, o novo CD
inclui ainda três inéditos, por Lúcia Moniz, Nuno Bettencourt e Santos &
Pecadores. Cantados em inglês, o que trai um pouco o espírito da edição
original que se pretende comemorar…
Todos
afirmam a sua gratidão ao “pai do rock português” e são unânimes em afirmar que
“Ar de Rock” é o exemplar original, aquele que abriu as portas à utilização da
língua portuguesa neste tipo de música.
Se
é indiscutível que os seus autores, a dupla Rui Veloso-Carlos Tê, foram
pioneiros na forma como fizeram a sobreposição de uma língua – o português –
com uma música – o rock – que em Portugal não tinha tradições, para além das
clonagens mais ou menos ié-iés dos modelos vindos de fora com o rótulo
“Beatles” ou “Rolling Stones”, não é menos verdade que a matriz de “Ar de Rock”
são os blues e que o próprio título do álbum faz um trocadilho com o termo
inglês “hard rock”.
Mas,
por sorte ou por engenho, “Ar de Rock” impôs-se na rádio e nas tabelas de
vendas (foi o primeiro disco de ouro conquistado por um músico rock nacional) e
“Chico Fininho” passou a andar nas bocas do mundo que passou a cantarolar com
ligeireza sobre a graça que tem a vida de um “junkie” na cidade do Porto.
Os
textos criados por Tê para “Ar de Rock” eram diretos, cantáveis e, por vezes,
crus. As melodias, as vocalizações e a guitarra de Veloso, como a heroína,
agarravam-se aos ouvidos, e por lá ficavam, com a vantagem de não provocarem
ressaca depois.
Seja
como for os efeitos deste disco na música portuguesa foram visíveis e as marcas
ficaram. Era o chamado “boom” do rock português, com a explosão de novas bandas
a inundarem o mercado, muitas delas, por qualquer razão inexplicável, nomeadas
por meio de siglas (UHF, GNR, NZZN, CTT…) e com a maior parte a investir
precisamente no lado errado da via aberta por “Ar de Rock”. Num ápice tudo
passou a poder ser cantado em português. Em tempo de revolução arte e rock até
podiam ser os “pintelhos” cantados pelo Grupo de Baile em “Patchouly”, mesmo se
cortados a meio do disco por um piiii radiofónico que não poderia ser mais pio…
Fica
a dúvida se sem “Ar de Rock” teriam existido uns Heróis do Mar, um Farinha ou
uns Mler Ife Dada, o veio mais eletrónico e menos rock onde verdadeiramente
corria a seiva do novo.
Duas
décadas não foram suficientes, enfim, para, a propósito de “Ar de Rock”, se
poder dizer que foi um ar que lhe deu…
RUI VELOSO E CONVIDADOS
LISBOA
Pavilhão Atlântico, hoje, às 22h
Bilhetes
entre 3500$00 e 6000$00
PORTO
Coliseu, 8 e 9 de Novembro, às 22h
Bilhetes
entre 2750$00 e 4200$00
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