MÚSICA
KRONOS
QUARTET E PHILIP GLASS NO COLISEU DE LISBOA
VAMPIROS
DE CORDA
O ACADEMISMO E TERROR, PARA CONSUMO CHIQUE: PHILIP GLASS TOCARÁ A SUA
MÚSICA AO LADO DO KRONOS QUARTET NO COLISEU DE LISBOA DURANTE A PROJEÇÃO AO
VIVO DO “DRACULA” DE TOD BROWNING.
FORMADOS EM 1973 para interpretar compositores “sérios”
como Shostakovitch, Webern ou Bartok, os Kronos Quartet, um clássico quarteto
de cordas de dois violinos, viola de arco e violoncelo, notabilizaram-se
todavia por estenderem o seu reportório a formas musicais estranhas à música
clássica, como o rock e a música étnica.
Mas foi
isso mesmo que os Kronos fizeram, ao executarem nos instrumentos de arco o rock
encharcado em LSD de Jimi Hendrix, música indiana ou a guitarralma de Carlos
Paredes. As fronteiras diluíram-se, géneros musicais díspares deram as mãos, o
mundo ficou mais aconchegado.
Amanhã e
domingo, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, apesar do contexto vampiresco, a
combinação faz-se com conforto. Philip Glass – autor da nova partitura para o
clássico filme de terror da Universal, “Dracula”, realizado em 1931 por Tod
Browning sobre a novela de Bram Stoker, e com o ator húngaro Bela Lugosi no
papel do vampiro mais mediático de todos os tempos – estará, de resto, presente
no palco para tocar teclados ao lado do Kronos. O minimalismo, na sua vertente
mais conservadora, é uma brincadeira de crianças nos arcos do quarteto. O CD,
cheio de sangue e com a carantonha de Bela Lugosi/Dracula na capa, pronta a
cravar os dentes na nossa jugular, encontra-se disponível na Elektra Nonesuch,
com distribuição da Warner Music.
Tudo isto
acontece porque o Kronos Quartet – David Harrington, violino, John Sherba,
violino, Hank Dutt, viola de arco, e Joan Jeanrenaud, violoncelo – além de
virtuosos são curiosos. Uma curiosidade que se confundiria até com iconoclastia
se entretanto este tipo de “transgressões” não se tivesse vulgarizado através
de outras formações com uma prática idêntica, como o Balanescu Quartet ou os
menos eruditos Soldie String Quartet. Os Kronos continuam a sugar com engenho o
sangue alheio mas já ninguém desfalece de susto com as suas dentadas.
Philip
Glass e o Kronos Quartet já tinham colaborado antes. Na banda sonora de
“Mishima”, de Paul Schrader, e no “Quartet no.5” do compositor americano. Terry
Riley é outro dos monstros da escola minimalista norte-americana com presença
assídua no reportório do quarteto, contribuindo com a composição “Cortejo
funebre en el Monte Diablo” para “Kronos Caravan”, editado o ano passado pela
Elektra Nonesuch, um álbum no qual participal a banda cigana romena Taraf de
Haidouks e de cujo alinhamento faz parte um par de temas do músico português
Carlos Paredes, incluindo a “Canção dos verdes anos”.
Quanto a
Glass, há muito que a sua música tem paredes de vidro. Longe vão os tempos em
que ele e Robert Wilson criaram a obra que revolucionou o conceito de ópera,
“Einstein on the Beach”, editada em 1976. Hoje trabalha por encomenda a um
ritmo de cruzeiro numa citação até à náusea de si próprio.
Philip
Glass e Kronos Quartet, cada um à sua maneira, sustentam-se das vidas que sujam
sob o aplauso público. Os vampiros já não são o que eram.
DRACULA
De
Tod Browning
Música
ao vivo pelos KRONOS QUARTET e PHILIP GLASS
LISBOA
Coliseu dos Recreios, dias 23 e 24, às 22h00, bilhetes entre 3000$00 e 10000$00
ARTES | sexta-feira, 22 setembro 2000
Sem comentários:
Enviar um comentário