MÚSICAS
ÚLTIMO
FIM DE SEMANA DO CANTIGAS DO MAIO
VERDAZUL
KLEZMER TIMBILA ZULU
FOLK ADORNADO POR ELETRÓNICAS DA GASCONHA, UM FURACÃO KLEZMER,
POLIFONIAS ZULU E UMA ORQUESTRA DE TIMBILAS FECHAM O CANTIGAS DO MAIO.
TERMINA ESTE fim-de-semana a 11ª
edição do Cantigas do Maio do Seixal. Verd e Blu, da Gasconha, Kroke, da
Polónia, hoje, e Colenso, da África do Sul, e a Orquestra de Timbilas Venâncio
M’Bande, de Moçambique, amanhã, fecham a programação principal, com concertos
na Fábrica Mundet. Na tenda de convívio atua ainda, hoje e amanhã, depois dos
espetáculos, o grupo Folia, da Galiza. A música da Europa volta a estar em
destaque num festival que já assistiu à consagração da cantora catalã Rosa
Zaragoza e da Bagad Kemper, da Bretanha.
Com
os Verd e Blu, da Gasconha, território situado na grande extensão outrora
designada por Occitânia, separada da Espanha pelos Pirinéus, o verde e o azul
célticos encontram o sol e as polifonias do Mediterrâneo. Descobertos pelo consumidor
de música folk português em 91 através do álbum “Musica de Gasconha”, os Verd e
Blu posicionaram-se ao lado de outro dos grandes grupos oriundos da mesma
região, os Perlinpinpin Folc. Ao segundo álbum, porém, “Musicas a Dançar”
(1993), deram a entender que a sua música se enquadrava num campo de manobras
mais vasto. Em termos rítmicos o grupo assumiu por inteiro as programações
eletrónicas, sem que isso implicasse uma desvalorização dos materiais de base
tradicionais.
Joan-Francés
Tisnèr é o mentor dos Verd e Blu e executante de acordeão diatónico, flauta,
gaita-de-foles e tamboril de cordas, para quem a tradição não é um fim em si
mesmo mas um ponto de partida e cujo objetivo passa, segundo diz, por
“revisitar a música, a dança e a língua da Gasconha, mas dentro do espírito de
um puzzle em que apenas algumas peças são dispersas, e ser fiel a um corpo
tangível, vivendo-o para conseguir dessa forma uma música inovadora”. A música
dos Verd e Blu é, de facto, inovadora, e bastante mais interessante que esta
declaração do seu líder.
Quem
vive do palco e sobre ele atua como se o mundo acabasse no dia seguinte são os
Kroke (“Cracóvia”, em yddish) um trio polaco especializado na música klezmer, a
música tradicional judaica instrumental da Europa do Leste. São três, têm
formação clássica e conhecimentos de jazz, e já tocaram com Ravi Shankar,
Bustan Abraham, Klezmatics e Van Morrison. O primeiro concerto que deram fora
da Polónia realizou-se em Jerusalém, em 93, num Encontro de Sobreviventes do
Holocausto promovido por Steve Spielberg que ficara impressionado quando os viu
atuar num auditório de Cracóvia, na altura das filmagens de “A Lista de
Schindler”. Uma boa ideia do que poderá acontecer esta noite na Fábrica Mundet
pode ser obtida através da audição do álbum ao vivo, “Live at the Pit”, gravado
há dois anos. O novo, editado o ano passado, chama-se “The Sounds of the
Vanishing World”.
Amanhã,
a noite começa com as polifonias zulu dos Colenso Abafana Benkokhelo, nome de
uma formação vocal constituída em 1983 por Victor Mkhisé que reuniu 10 mineiros
zulus, da etnia Nguni, provenientes da zona de Colenso. Cantam nos três
principais estilos vocais zulu, Mbube, Ischthamiya e Ondlamu, dançam e vestem
trajes tradicionais, exprimindo os rituais quotidianos do seu povo nos moldes
ancestrais: o nascimento, a morte, a caça, a sementeira, a colheita e o
combate.
A
Fábrica Mundet fecha as portas com a Orquestra de Timbilas de Venâncio M’Bande,
formação moçambicana de timbilas, instrumento de percussão da família dos xilofones
tocado pela etnia Chopi em Zavala, no distrito de Inhambane, a Sul de
Moçambique.
Venâncio
M’Bande, de 67 anos, 38 a liderar diversas orquestras de timbilas – que ele
constrói e que tradicionalmente acompanham as cerimónias designadas m’saho, nas
quais populações de várias aldeias se juntam para confraternizar, cantar e
dançar – é o líder da atual formação, composta por jovens a quem Venâncio
ensinou desde crianças a arte de execução deste instrumento.
VERD E BLU, KROKE
Seixal, Fábrica Mundet, hoje, 22h
COLENSO, ORQUESTRA DE TIMBILAS VENÂNCIO
M’BANDE
Seixal, Fábrica Mundet, amanhã, 22h
ARTES | sexta-feira, 2 junho 2000
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