cultura SEGUNDA-FEIRA,
10 JULHO 2000
Festival
de world music no litoral alentejano
Músicas do
mundo em Sines
VASCO da Gama nasceu em Sines há
503 anos. O Festival Músicas do Mundo, também com berço nesta vila do litoral
alentejano, é mais novo. Nasceu no ano passado. Mas 2000 será o “ano 1” deste
acontecimento cultural, como fez questão de frisar o presidente da Câmara
Municipal de Sines, na conferência de imprensa de apresentação do festival que
teve lugar em Lisboa, ontem, na Casa do Alentejo.
O
festival irá decorrer nos próximos dias 27, 28 e 29 no Largo do Castelo, com
dois espetáculos diários marcados respetivamente para as 21h30 e 23h00. Com
entrada livre. Adufe (Portugal), Dieuf Dieul (Senegal), Trio Esquina com Sandra
Rumolino (Argentina), Sivan (Curdistão), Omar Sosa Sextet (Cuba) e Shemekia
Copeland Blues Band (EUA) são os nomes que fazem parte da programação.
José
Salgueiro, percussionista requisitado praticamente por todos os músicos
portugueses da atualidade, apresenta o seu projeto Adufe. Tambores tradicionais
para a idade espacial. Adufes gigantes (os adufões), adufes médios, adufes
pequenotes, inventam novos compassos, arranjados como um teatro de ritmos e
gestos rituais.
África
e jazz cruzam-se com naturalidade na música dos Dieuf Dieul, do Senegal,
“descobertos” pelo saxofonista David Murray quando este os viu atuar em Dakar
1996. Yela, afro-mandingue, m’balax, tudo estilos locais, combinam-se numa
música de fusão onde não chocam os diálogos de um saxofone com um djembé ou de
uma guitarra elétrica com o n’goni. O nome do grupo significa “o trabalho
recompensa” e o seu álbum de estreia, “On ne Sait pas où Aller”, está pronto
para sair em Setembro. São estes os dois nomes agendados para quinta-feira, dia
27.
O
tango vai ser tocado e dançado no Castelo de Sines no dia seguinte (sexta, 28),
com o Trio Esquina, liderado pelo bandoneonista César Stroscio. Acompanha esta
formação que alguns consideram herdeira do Cuarteto Cedrón, a cantora Sandra
Rumolina. Ao par de dançarinos Bibiana Guilhamet e Jorge Rodriguez cabe a
tarefa de fazer subir os níveis de testosterona.
No
mesmo dia atua o cantor e tocador de saz do Curdistão, Sivan Perwer, e a sua
banda. O Curdistão, apesar dos seus cerca de 30 milhões de habitantes, é uma
nação sem estado, desde a queda do Império Otomano no fim da 1ª Guerra Mundial.
Compreende-se portanto o conteúdo político explícito de muitas das suas canções
da mesma forma que se compreende que as mesmas tenham sido proibidas no Irão,
no Iraque e na Síria. Mesmo na Turquia, país onde Perwer nasceu, só as canções
de amor são autorizadas.
Omar
Sosa Sextet e Shemekia Copeland Blues Band fecham no sábado, dia 29, o festival
Músicas do Mundo. Líder da formação cubana, Omar Sosa é um pianista consagrado,
ao ponto de já ter sido comparado a Herbie Hancock e a Thelonious Monk. Jazz e
música clássica formam um estilo pouco convencional, disponível no álbum
“Bembón”. “Cantos uribes com batida hip hop e a riqueza melódica de um Keith
Jarrett com a força rítmica da música cubana” é outro dos anúncios aliciantes
que antecedem a vinda deste músico a Portugal.
Shemekia
Copeland, filha de Johnny “Clyde” Copeland, por seu lado, tem sido comparada a
Aretha Franklin, Etta James e Bessie Smith. Tem 21 anos mas é já uma das vozes
que com mais força tem operado a renovação do “blues”. “Turn the Heat up”,
lançado em 1998, contém elementos de gospel, funky blues, rhythm ‘n’ blues, e
Memphis soul e lançou esta cantora no panorama internacional, sendo considerado
um dos melhores álbuns desse ano nos EUA. Shemekia cresceu no Harlem, bairro
negro de Nova Iorque, bebeu da dor da cidade e acompanhou o seu pai durante a
adolescência. Bom barro para se moldar o corpo, o espírito e a alma no “blues”.
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