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LUCÍA & PAREDES
O DUETO DAS CORDAS
Hoje à noite, na Póvoa do Varzim, as guitarras
de Portugal e Espanha vão tocar ao desafio: Paco de Lucía e Carlos Paredes,
mestres incontestados dos respetivos instrumentos, num “mano a mano” que se
prevê exaltante.
Fala-se de flamenco e vem-nos à memória a figura
aprumada de Obélix, em volta da fogueira, batendo palmas e soltando uns
“hayhayhayhay” compenetrados.
Paco de Lucía não é
Obélix, mas nem por isso deixa de ser um dos mais dignos representantes da
guitarra flamenca. Guitarra que exige muita garra e fogo nos dedos. Vem dos
ciganos o seu segredo, a maneira de traduzir a vida na vibração das cordas. A
perfeição guitarrística não se esgota na velocidade nem no virtuosismo da
execução. Os mestres sabem que a técnica está sempre ao serviço da emoção e que
esta só então se cumpre no movimento corporal. Aprendizagem que exige
iniciação. Paco de Lucía inclui-se no grupo restrito dos mestres, ao lado de
Manitas de Plata, na arte de rasgar a alma.
Hoje à noite, no Salão
Nobre do Casino da Póvoa, tecerá armas, que é como quem diz, guitarras, com um
artista à sua altura – o português Carlos Paredes – em duetos que vão pôr à
prova a tradicional rivalidade entre os vizinhos ibéricos. De um lado a
fogosidade picante, a típica extroversão andaluza, do outro, o intimismo e
saudade lusitanas, através de dois dos mais conceituados intérpretes da
atualidade.
Paco de Lucía, de ser
verdadeiro nome Francisco Sánchez Gomez, nasceu e foi criado numa família de
músicos. Aprendeu com o pai os mistérios da guitarra espanhola, e, mais tarde,
com os ensinamentos dos lendários Sabicas e Mario Escudero. Aos 13 anos já
fazia parte, como terceiro guitarrista, da Companhia Espanhola de Ballet Clássico.
Nos primeiros álbuns, o flamenco, sempre, e a música popular da Andaluzia.
Junta-se a outros
guitarristas – Paco Cepero, El Farruco, Juan Maya – e parte à descoberta da
Europa, tornando-se durante sete anos o principal divulgador do flamenco, além
fronteiras. Nunca mais parou de gravar discos: “Fantasia Flamenca”, “Fuente y
Caudal”, “Almoraima”, “Castro Marín”, “Solo Quiero Caminar”. Este último
granjeou-lhe enorme popularidade no nosso país através, sobretudo, da canção do
mesmo nome. Ultimamente voltou-se para o campo mais vasto da música de fusão,
tocando e gravando com outros “monstros” da guitarra, como Carlos Santana, Al
Di Meola, John McLaughlin e Larry Coryell.
Hoje à noite vai ser um
negócio só a dois: guitarras à descarada, portuguesa e espanhola, num duelo de
resultado incerto mas certamente mágico.
PÓVOA
DO VARZIM Monumental Casino da Póvoa, 6ª, 28, às 22h00
SEXTA-FEIRA,
28 SETEMBRO 1990 A
SEMANA
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