SÁBADO, 22 DEZEMBRO 1990 cultura
Natal dos
Hospitais
Quem canta os males espanta
DEZEMBRO, mês da fraternidade universal e do Natal dos
Hospitais, iniciativa há trinta anos organizada pelo “Diário de Notícias” –
imponente montra do “music hall” luso, estendal da mediocridade bem
intencionada (com as inevitáveis exceções), solta a coberto do pretexto da
solidariedade. A intenção é minorar o mal alheio. Todos os anos por esta época,
contudo, terminada a festa, há quem nunca mais se restabeleça das maleitas. Mas
todos juntos, sãos e doentes, fazem por divertir-se e a maioria sobrevive.
Em
diferido do Porto, Madeira e Açores, vieram nomes grandes do nosso
cançonetismo, como José Alberto Reis (o Júlio Iglésias português), ou os
Salsinhas da Balada (que dominam a língua inglesa, fazendo rimar “December
twenty four” com “can’t wait no more”). As notas de erotismo foram dadas por
Ágata e Lilian Kramer (esta com o seu “brinquedo”, como frisou a voz “off”
desse grande comunicador que dá pelo nome de Luís Pereira de Sousa),
sensualonas, de negro (des)pidas, capazes de liquidar logo ali meia centena de
cardíacos. No meio de tanto esplendor, os GNR passaram quase despercebidos com
a sua “Morte ao Sol”.
Brilhantismo psicadélico
Já em
direto do Hospital S. Francisco Xavier, a dupla Ana Zannatti-Eládio Clímaco
apresentou Rui Veloso que preparou os presentes para o brilhantismo psicadélico
de Gabriel Cardoso e os ardores castelhanos da emigrante Maria Mendes.
Quando
Clemente subiu ao palco para cantar “Baila Cigana”, o país inteiro calou,
comovido com as desditas daquela cuja “alma ninguém compreende porque é livre
como as estrelas”.
Delírio,
histeria – Roberto Leal surge todo de branco, envolto em luminoso halo,
procurando vencer a lei da gravidade, elevando-se, de braços erguidos, em
direção ao céu! O palco voltou a iluminar-se, pela voz e rosto verdadeiramente
bonitos de Rita Guerra. Qualidade que se manteve no virtuosismo violinístico do
jovem Pedro Teixeira da Silva. Simone de Oliveira, cada vez mais Weilliana, na
pose e na interpretação, e Lena d’Água, que continua possuída pelo fantasma de
António Variações, não destoaram, antes do exotismo dos cantores e danças
indianos dos Baguini.
Depois
de beijar extasiado alguns pequerruchos, Marco Paulo cantou “ai ai ai meu amor”
fazendo saltar de mão o microfone pelo menos oito vezes. Para fim de festa,
Herman “Estebes” José pôs a cambada às gargalhadas. Ao todo, cinco horas
divertidas em que a apalavra “sofrimento” esteve ausente. Só por isso valeu a
pena. Uma vez por ano, fica bem á televisão vestir-se de Pai Natal.
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